O primeiro carro brasileiro comandado pela voz

Um homem entra no carro. Ele diz: “travar portas, acender farol”. Automaticamente os mecanismos são acionados . Embora pareça ficção científica, esta cena pode se tornar realidade num futuro muito próximo. Isso é o que prevê o professor Renato Giacomini, da Faculdade de Engenharia Industrial (UniFei), que em parceria com o Instituto Genius e a General Motors, acaba de apresentar o primeiro carro nacional — Vectra, da Chevrolet — com acionamento automático pela voz.

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O Vectra equipado com o software de acionamento automático
por voz foi apresentado no Salão do Automóvel em São Paulo

Com esse novo sistema de comando de voz é possível acionar lanternas, setas, faróis, travas de portas, vidros, luzes interna e do painel, sistema de ventilação e pisca-alerta. “Para os carros com câmbio automático seria fácil estender o comando também à marcha”, explica Renato. O mecanismo só pode ser acessado do interior do carro, equipado com uma série de microfones. A idéia inicial era que os comandos fossem acionados por qualquer um, em diversos pontos do veículo. No entanto, no carro lançado, por medida de segurança, os pesquisadores optaram por deixar o comando apenas a cargo do motorista.

O software utilizado no Vectra foi desenvolvido por engenheiros e lingüistas brasileiros há cerca de seis meses, e é o primeiro que reconhece a língua portuguesa. Ele está uma geração à frente dos programas utilizados em aparelhos celulares — que reconheciam apenas palavras gravadas –, pois é capaz de ’entender’ a própria língua. O princípio do software é simples: primeiro ele reconhece os fonemas para então construir as palavras e, por fim, analisar a posição destas na frase. Por isso, tanto faz dizer “acende” ou “liga” a lanterna, porque o programa identifica sinônimos.

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Dispositivo de acionamento automático por voz desenvolvido pela UniFei, Instituto Genius e GM

A versão do software aplicada no carro permite que sejam reconhecidas até 50 palavras em português. “O programa já foi testado com até dez mil palavras, mas para esta experiência 50 são suficientes”, diz Renato. Os pesquisadores também levaram em conta os sotaques de diversas regiões do país — Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e todos os de São Paulo –, além de sexo e idade, o que permite o reconhecimento de qualquer tipo de voz.

Dentro de alguns anos, esse tipo de tecnologia poderá se tornar um item opcional na compra de carros. Além disso, ela também deverá ser aplicada a outros objetos como eletrodomésticos, por exemplo. “Não é natural sair por aí apertando botões”, diz Renato. “A comunicação normal é por voz, por isso imagino que ela vá se tornar comum.” Os pesquisadores resolveram começar pelo carro porque ele já tem um valor alto e, por isso, o custo do software — cerca de 90 dólares — ficaria diluído.

Apesar do custo do mecanismo de comando por voz não ser muito alto, ele será um privilégio para aqueles que puderem pagar cerca de 50 mil reais, preço de um Vectra 0 km. Além disso, é difícil prever quanto as montadoras cobrariam pelo ’acessório’. O carro nacional com acionamento automático por voz foi apresentado em outubro no Salão do Automóvel em São Paulo e a previsão é que ele chegue ao mercado em 2004 ou 2005.

Gisele Lopes
Ciência Hoje On-line
22/10/02