Até o fim do ano deve estar pronto o primeiro carro elétrico nacional com células a combustível, que adota o hidrogênio como fonte de energia. A tecnologia não emite poluentes — o único subproduto obtido com o uso de hidrogênio é vapor d’água — e permite reduzir a dependência por combustíveis fósseis vindos de fontes não-renováveis, como o petróleo. Desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o protótipo, batizado de Vega II, deve ser exposto em agosto no Salão de Inovação Tecnológica, em São Paulo.
Protótipo do carro movido a célula de combustível (Vega II)
A célula a combustível é um sistema de conversão que transforma a energia química do hidrogênio em eletricidade. Com aproximadamente o mesmo tamanho dos motores usados nos veículos de passeio atuais, sua principal função é combinar o hidrogênio com o oxigênio, que pode ser retirado da atmosfera. O hidrogênio pode ser obtido a partir da água, de combustíveis fósseis (como gasolina e gás natural) ou do álcool. A ligação do hidrogênio com o oxigênio produz energia elétrica e água.
“Quando o combustível colocado no carro não é o hidrogênio gasoso ou líquido, deve-se acrescentar um sistema intermediário para retirar o hidrogênio desse combustível. Esses sistemas são chamados de reformadores”, explica o físico Paulo Ferreira, envolvido no projeto. O Vega II, em uma segunda fase, contará com um reformador de etanol, álcool extraído da cana-de-açúcar (a versão atual usa hidrogênio gasoso extraído da água). Também há reformadores de outros combustíveis, como gasolina e gás natural.
O uso do etanol permite romper com a dependência de combustíveis fósseis. O Brasil tem um enorme potencial agrícola para a produção de cana-de-açúcar e, no futuro, poderá até exportar esse tipo de energia. Além disso, como a cana absorve CO2 da atmosfera na fotossíntese durante seu crescimento, o uso do etanol minimiza as conseqüências da emissão de gás carbônico (CO2) que ocorre quando o hidrogênio é obtido a partir de outros combustíveis.
Já existem carros elétricos no mercado, movidos a baterias eletroquímicas. Os maiores problemas desses veículos são a baixa autonomia, que obriga o usuário a recarregar as baterias a cada 200 km em média, e o tempo de recarga, que chega a dez horas. O carro da Unicamp é um híbrido, e adota simultaneamente células a combustível e baterias. A vantagem desse sistema é que as baterias são recarregadas pela célula a combustível. “As baterias só são utilizadas quando o motor exige respostas rápidas e alta potência, como nas acelerações”, explica Ferreira. “Quando o carro está em velocidade constante, a célula alimenta o motor e recarrega as baterias. O sistema completo possui eficiência duas vezes maior que a de um carro com motor a combustão interna.”
A célula usada no Vega II é capaz de fazer funcionar, em conjunto com as baterias, um carro de 30 kW. Essa potência corresponde a um motor de 500 cilindradas. Por ora, os pesquisadores não estão preocupados com a potência e sim em testar veículos elétricos com células a combustível.
Adriana Melo
Ciência Hoje On-line
01/04/03