O primeiro inventário detalhado da biodiversidade brasileira

O Brasil abriga a maior diversidade biológica entre os 17 países ditos megadiversos — que reúnem 70% das espécies de animais e vegetais catalogadas até hoje no mundo. Calcula-se que o país possua entre 15 e 20% de toda a biodiversidade mundial e o maior número de espécies endêmicas (aquelas que não ocorrem em nenhum outro lugar). Os pesquisadores Thomas M. Lewinsohn e Paulo Inácio Prado, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fizeram o primeiro inventário detalhado de toda essa diversidade biológica, além de uma estimativa do número de espécies brasileiras ainda desconhecidas. Os resultados estão no livro Biodiversidade brasileira – síntese do estado atual do conhecimento , lançado recentemente.

null O livro reúne as conclusões de sete documentos produzidos por especialistas sobre a diversidade de micróbios, plantas terrestres, invertebrados marinhos e terrestres, organismos de água doce e vertebrados. Também são analisadas a diversidade genética (entre animais da mesma espécie) e as respostas de 400 pesquisadores a um questionário elaborado pelos autores e reproduzido no livro.

Estima-se que a fauna e a flora brasileiras reúnam cerca de 2 milhões de espécies, das quais apenas 10% já foram identificadas. Entre estas estão cerca de 45 mil espécies de plantas superiores (22% do total mundial), 524 espécies de mamíferos (131 endêmicas), 517 anfíbios (294 endêmicos), 1677 aves (191 endêmicas) e 468 répteis (172 endêmicos).

Alguns grupos de espécies são bastante estudados, como a maioria dos vertebrados (com exceção dos peixes de água doce) e as plantas com flor da Mata Atlântica. Entretanto, ainda se sabe muito pouco sobre organismos como bactérias, fungos, nematódeos e ácaros.

A cada ano, o total de espécies catalogadas cresce, em média, 0,6%. Nesse ritmo seriam necessários pelo menos mais dez séculos de trabalho para descrever todas as espécies brasileiras. Os autores atribuem a dificuldade em descobrir novas espécies ao número reduzido de pesquisadores e técnicos em atividade. Grandes regiões do país ainda não foram inventariadas e mesmo em áreas bastante investigadas novas espécies são regularmente descritas.

Os ecossistemas das regiões Sudeste, Sul e Norte já foram razoavelmente examinados: 83% dos inventários já publicados concentram-se nessas três regiões (além disso, Sul e Sudeste abrigam grande parte dos cientistas e de instituições como museus e centros de pesquisa). Por outro lado, ecossistemas importantes como a Caatinga e o Pantanal continuam muito pouco conhecidos.

Para melhorar esse quadro, os autores sugerem o estudo detalhado dos acervos já existentes e a coleta de novos espécimes, especialmente nas regiões mal representadas nas coleções atuais. Além disso, é necessário criar novos núcleos de pesquisa direcionados para a investigação da biodiversidade e investir na formação de profissionais qualificados para essa atividade.

 

Biodiversidade brasileira – síntese
do estado atual do conhecimento

Thomas M. Lewinsohn e Paulo Inácio Prado
São Paulo, 2002, Editora Contexto
176 páginas; R$ 24

Adriana Melo
Ciência Hoje on-line
21/03/03