Esfigmomanômetro e estetoscópio, aparelhos comumente usados para medir a pressão arterial (foto: CDC).
No Brasil, 30% da população é hipertensa, e esse índice sobe para 50% entre pessoas com mais de 65 anos, segundo dados do Ministério da Saúde. Para piorar, estima-se que cerca de 15 milhões de hipertensos ignorem sua condição e que apenas 7 milhões estejam se tratando. O dado é alarmante, quando se sabe que as doenças cardiovasculares foram responsáveis por cerca de 270 mil óbitos no país em 2002, quase o dobro de mortes por todos os tipos de câncer.
As estatísticas indicam a importância da prevenção para se combater esse problema de saúde pública. E os especialistas estão antenados com isso, tanto que o tema esteve no centro dos debates do 14º Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), realizado em Curitiba no início deste mês. A preocupação reflete uma tendência atual dos profissionais de saúde. Uns chamam de “nova medicina”; outros, de “medicina preventiva”. Mas o fato é que a medicina moderna está mais preocupada com profilaxia do que com cura.
A prevenção é especialmente importante no caso da hipertensão, um dos maiores problemas de saúde pública do século 21: este é o terceiro principal fator de risco associado à mortalidade no globo, perdendo apenas para desnutrição e Aids, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 2010, estima-se que as doenças cardiovasculares serão a principal causa mortis nos países em desenvolvimento. Para complicar, 45% dos profissionais de saúde do planeta não estão aptos a lidar com o problema, segundo a OMS.
A participação no congresso da SBH de profissionais de diferentes áreas relacionadas com hipertensão (medicina, nutrição, fisioterapia, educação física, psicologia, entre outras) é uma prova de que atualmente os esforços não se concentram no uso de drogas para tratar o problema nem em uma única área de conhecimento. “A SBH adota hoje enfoque multidisciplinar na discussão de diferentes aspectos do estudo, tratamento e prevenção da hipertensão arterial e suas complicações”, disse o fisiologista Robson Santos, presidente da Sociedade.
Por uma vida saudável
Robson Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão, durante a abertura do 14º Congresso da SBH (foto: Fernanda Rubinger).
A colaboração entre especialistas no tratamento da hipertensão tem mostrado resultados positivos. Prova disso é que boa parte dos hipertensos que seguem as novas prescrições não têm apresentado doenças cardiovasculares. Profissionais de educação física e fisioterapia exercem papel essencial no acompanhamento dos pacientes, assim como psicólogos, que têm conseguido convencê-los de que uma vida normal é possível caso um cronograma básico seja obedecido.
Especialistas apontam que a conscientização para o problema da hipertensão deve ser uma preocupação cada vez mais presente, em um contexto no qual é cada vez mais difícil manter uma vida saudável. “A insegurança nas áreas urbanas reduziu espaços para a recreação infantil, e os brinquedos tecnológicos ganharam terreno, incentivando o sedentarismo”, afirmou a pediatra Neiva Leite em uma conferência apresentada no congresso. “Além disso, houve substancial aumento no consumo de alimentos nem sempre saudáveis e redução do gasto da energia consumida”. Esse quadro explica o crescimento dos casos de hipertensão e doenças cardiovasculares entre crianças e jovens. De acordo com a médica, para reduzir o risco de morte, o ideal é que o indivíduo queime semanalmente pelo menos 2 mil kcal em atividade física.
A preocupação com a dieta também não pode ser deixada de lado. A endocrinologista Sandra Ferreira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), citou um estudo recente que propõe redução de carboidratos e aumento proporcional de gordura insaturada visando uma dieta balanceada, que não altere a pressão. Em alguns casos, a dieta mais aceita hoje (rica em carboidrato e pobre em gordura) causa discreta hipertensão. Mas o estudo, em andamento, ainda não pode ser tomado como definitivo. Fato é que se deve consumir fibras e evitar gorduras saturadas e trans .
Na opinião da nutricionista Neide de Jesus, a alimentação saudável associada a exercícios é mais eficaz que o uso de produtos processados. Em sua conferência, ela defendeu a ingestão de vitaminas por meio de tubérculos e cereais e não por meio de pílulas. A propósito, ela lembrou uma citação clássica de Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.): “Que seu alimento seja seu medicamento e que seu medicamento seja seu alimento!”.
André Marques
Especial para a CH On-line / PR
30/08/2006