Óleo do pau-rosa mata larvas do Aedes aegypti

O óleo extraído do pau-rosa, árvore nativa da Amazônia, já era conhecido como uma das principais essências utilizadas na fabricação do famoso perfume Chanel nº 5, imortalizado pela atriz Marilyn Monroe. Agora, uma aluna de graduação do curso de química da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) mostrou que o óleo tem outra propriedade bastante peculiar: ele é capaz de matar larvas do Aedes aegypti , mosquito da dengue.

Plantação de pau-rosa da Reserva Florestal Ducke

No início da pesquisa, Katiuscia de Souza verificou que a água cheirosa descartada durante o processo de extração do óleo, chamada de hidrolato, era utilizada na Amazônia como desinfetante de banheiro. Ela imaginou que o linalol, principal componente do óleo, seria o responsável por essa atividade bactericida. Isso a fez redefinir o objetivo do seu trabalho de iniciação científica, que até então era analisar a quantidade de linalol descartado junto com o hidrolato.

Depois de uma série de testes realizados no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Katiuscia demonstrou que o óleo é larvicida, mas não ficou provado que o linalol é o componente ativo. “O óleo do pau-rosa matou as larvas de mosquito da dengue, mas ainda não sei qual de seus componentes foi responsável por isso”, disse. “Acredito que possa ser o linalol por constituir mais de 90% do óleo, mas isso só será comprovado na próxima fase do estudo.”

No laboratório, a pesquisadora colocou em recipientes 10 ml de água um pouco de alimento e 10 larvas do mosquito. Após vários testes com diferentes concentrações, Katiuscia verificou que o volume mais eficaz foi o de 40 microlitros de óleo. A primeira leitura, feita 24 horas depois, verificou que 88% das larvas morreram. Após 48 horas, 92% estavam mortas.

O óleo utilizado na pesquisa foi extraído de galhos finos e folhas de árvores da Reserva Florestal de Ducke em Manaus pela própria pesquisadora por meio de hidrodestilação. Durante esse processo, a serragem do material coletado é misturada com água e fervida. Depois de se transformar em vapor, essa mistura passa pelo condensador e vira líquido. Por ter densidade diferente, o óleo fica em cima da água, o que facilita sua separação posteriormente.

Durante a extração, Katiuscia pôde verificar que folhas, galhos e troncos tiveram diferentes rendimentos. Enquanto o rendimento de óleo do tronco foi de apenas 1,4%, o de galhos finos 1,6%, e o das folhas, 2,3 %. “Isso demonstra que não é necessário derrubar a árvore para extrair o óleo e serve de exemplo para evitar a exploração predatória”, disse Katiuscia.

O pau-rosa ( Aniba rosaeodora ), árvore que pode atingir 30 metros de altura, foi colocado na lista das espécies da flora brasileira em extinção pelo Ibama em 1992. Isso é conseqüência de anos de exploração quase sempre clandestina com destino à fabricação de perfumes, cosméticos, lubrificantes e até remédios.

Liza Albuquerque
Ciência Hoje On-line
23/01/04