A sonda espacial Pioneer 10, lançada ao espaço em 2 de março de 1972 e situada atualmente além dos limites do Sistema Solar, pode ter enviado à Terra seu último sopro de vida. Em 22 de janeiro de 2003, um receptor de ondas de rádio instalado em um observatório da agência espacial norte-americana (Nasa) perto de Madrid captou um fraco sinal emitido pela sonda.
A sonda Pioneer 10 foi o primeiro equipamento construído
pelo homem a ir além da órbita de Plutão (imagens: Nasa)
Por ser construída para realizar viagens espaciais distantes, a Pioneer 10 não é movida a luz solar, como outras sondas. Sua energia é produzida pelo calor resultante da desintegração de radioisótopos. Após mais de 30 anos no espaço, os engenheiros da Nasa acreditam que não há mais radioisótopos suficientes para a sonda continuar a mandar sinais para a Terra. Os últimos três sinais enviados pela Pioneer 10 foram captados pelos instrumentos da Nasa durante um curto período, insuficiente para que se recolhessem muitas informações científicas.
A história da sonda é cheia de recordes e pioneirismo. Ela saiu da órbita terrestre, em 1972, a uma velocidade nunca alcançada antes por uma máquina: 51.810 km/h. Isso permitiu à Pioneer 10 chegar à Lua em 11 horas e à órbita de Marte em 12 semanas. A sonda foi a primeira a ultrapassar o cinturão de asteróides de 280 milhões de km de largura e 80 milhões de km de espessura localizado entre Marte e Júpiter. Não foi tarefa fácil: esses corpos celestes viajam a uma velocidade de 20 km por segundo e podem ser tão pequenos como um grão de areia ou tão grandes como o território do Alasca.
Júpiter fotografado pela Pioneer 10 em dezembro de 1973
Em sua longa missão, a sonda se tornou o primeiro equipamento a registrar imagens próximas de Júpiter. Ela também cartografou os anéis de radiação desse planeta, identificou seu campo magnético e revelou detalhes sobre sua composição. Em 1983, a Pioneer 10 tornou-se a primeira sonda a passar a órbita de Plutão, o planeta mais distante do Sol. Ela também registrou imagens de regiões fora do Sistema Solar e forneceu dados para o estudo das partículas energéticas do vento solar. Em 1997, quando a sonda já estava a milhões de quilômetros da Terra, foi decretado o fim oficial de sua missão.
Quando enviou seu último sinal a Pioneer 10 estava a 12 bilhões de km da Terra, ou 82 vezes a distância entre a Terra e o Sol (150 milhões de km). A sonda provavelmente vai continuar silenciosamente a sua jornada rumo ao desconhecido. Os cientistas calculam que em 2 milhões de anos ela alcançará a estrela de Aldebaran, localizada no centro da constelação de Touro, a cerca de 68 anos-luz da Terra. Lá, quem sabe alguém finalmente leia a placa de saudação a civilizações extra-terrestres concebida por Carl Sagan e instalada na Pionneer 10.
Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
28/02/03
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