Ostra também é cultura

 

Ostra do mangue da espécie Crassostrea rizophorae produzida por maricultores que participam do Projeto Cultimar (fotos: Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais/UFPR)

A realidade dos produtores de ostra do litoral paranaense começou a melhorar nos últimos tempos graças a um projeto do Grupo Integrado de Aqüicultura e Estudos Ambientais (GIA), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Com o apoio da Petrobras, profissionais de diversas áreas desenvolvem ações de incentivo à atividade artesanal, sem prejudicar a natureza e orientando a exploração de riquezas do mar no sentido da sustentabilidade econômica e ambiental.

 
Isso porque, mesmo com clima propício e extensa área litorânea, o Brasil não é um país desenvolvido no que diz respeito à produção comercial de organismos marinhos. A maricultura aqui praticada ainda não é capaz de gerar renda para as comunidades tradicionais e é muito dependente do extrativismo. Para a subsistência, é suficiente. Mas o problema é que as comunidades litorâneas não estão isoladas, sujeitando-se à economia de mercado dos grandes centros urbanos.
 
No Paraná, a principal atividade ligada ao mar é a pesca. O cultivo de ostra ainda é pouco desenvolvido, e a maior parte dos produtores trabalha em situação irregular. Além disso, enfrentam grande dificuldade para comercializar a produção devido à pouca tradição que esse molusco tem na culinária local e à desconfiança dos consumidores acerca da qualidade do produto.
 
Diante dos obstáculos enfrentados pelos praticantes da maricultura familiar, surgiu o projeto Cultimar, que, embora ainda em fase de implantação, já apresenta resultados positivos. As ações são desenvolvidas na região de Guaratuba e Ilha das Peças, a aproximadamente 100 km de Curitiba.
 
Os produtores interessados se cadastram para participar do projeto. Daí em diante são feitas avaliações das técnicas de cultivo empregadas, identificam-se problemas e propõem-se soluções. As ostras produzidas passam por um controle de qualidade em laboratório e recebem uma certificação que atesta a ausência de microrganismos em quantidade considerada patogênica. Paralelamente, procura-se difundir a cultura gastronômica de ostras nos restaurantes locais. Muitos produtores abrem seus próprios pontos de venda, até mesmo em outras cidades, controlando diretamente o destino de sua produção.
 

Maricultor maneja estruturas de cultivo de ostras.

“Um importante objetivo que temos alcançado é eliminar a figura dos atravessadores”, diz o oceanógrafo Antonio Ostrensky Neto, coordenador geral do projeto. Ele conta que o próprio produtor coordena todas as etapas, desde a compra das larvas de ostras até a oferta do prato na mesa do consumidor. Os moluscos podem ser vendidos a um custo muito mais baixo, e o lucro ainda é maior para o produtor.

 
Com o fim de criar uma identidade para o projeto e fortalecer a nova tradição gastronômica na região, criou-se uma espécie de grife que identifica uma série de produtos e também ajuda a divulgar o trabalho do GIA. A marca serve ainda para ajudar o público a identificar os restaurantes que participam da iniciativa. É uma forma de garantir aos freqüentadores que os pratos servidos no local não farão mal à saúde, uma vez que o consumo de ostras que não passam por controle de qualidade pode provocar diarréia, hepatite e outras doenças. 
 
Diferente do modo de ação de outras políticas públicas, o Projeto Cultimar não convoca as pessoas para praticar a maricultura. “Oferecemos assistência àqueles que já trabalham na área, mas ainda não o fazem de modo sustentável”, diz Ostrensky.
 
Outras formas de atuação se ligam a aspectos socioculturais, com trabalhos de conscientização e educação ambiental em escolas e comunidades, por meio de oficinas. Até mesmo a cultura popular é fortalecida pelo projeto. Um grupo de música tradicional se apresenta na região ajudando a divulgar o Cultimar.
 
Graças aos bons frutos que já colheu, o projeto pretende expandir-se para outras regiões brasileiras, visando incentivar o desenvolvimento de outras culturas marinhas, sempre com os mesmos objetivos: fortalecer a cultura local, gerar renda e promover a educação ambiental.

Para mais informações, visite o site do Cultimar .

Célio Yano
Especial para a CH On-line/PR
26/01/2006