A linguagem escrita pode afetar o processamento dos cheiros no cérebro. A influência de informações cognitivas sobre o olfato foi revelada em experimentos realizados por pesquisadores da Universidade de Oxford e publicados na revista Neuron de 19 de maio. Os resultados mostraram que um mesmo odor é percebido de maneira diferente quando acompanhado de palavras associadas a aromas prazerosos ou desagradáveis.
A ressonância magnética produz imagens a partir do fluxo de sangue nas diferentes regiões do cérebro. As áreas com aumento de fluxo sangüíneo aparecem coloridas e indicam uma maior atividade cerebral em resposta ao odor rotulado com uma palvara que remete a um cheiro bom.
Curiosamente, o odor-teste com o rótulo “queijo cheddar” foi considerado significativamente mais agradável do que quando rotulado como “odor corporal”. Esse julgamento foi confirmado pela ressonância magnética: a atividade cerebral no córtex orbitofrontal e na amígdala foi muito mais expressiva quando o odor vinha acompanhado do rótulo “queijo cheddar”.
O uso de rótulos verbais nesses experimentos foi essencial para provar como conhecimentos adquiridos e presentes em nossa memória influenciam percepções sensoriais. “Mostramos que as ativações olfativas podem ser manipuladas por fatores cognitivos, ainda que o estímulo seja o mesmo e que seu valor de recompensa intrínseco não tenha mudado”, diz Ivan Araújo, pesquisador brasileiro que fez parte da equipe liderada por Edmund Rolls. Futuramente, a equipe pretende realizar experimentos semelhantes com o sentido da gustação, manipulando estados de fome e saciedade.
Lia Brum
Ciência Hoje On-line
31/05/05