Panorama de um país ensolarado

Como incrementar o uso de fontes renováveis de energia — como a solar — e, com isso, promover o desenvolvimento sustentável e uma relação mais harmônica entre homem e natureza? Com essa preocupação, o pesquisador Chigueru Tiba, do Grupo de Pesquisas em Fontes Alternativas de Energia (FAE), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenou a elaboração do Atlas Solarimétrico do Brasil . A publicação traz a distribuição espacial e temporal da incidência do Sol no país e abre caminho para a ampliação do uso da energia solar — que é ecologicamente correta e às vezes até mais barata que a gerada de forma convencional.

O Sol em imagem da agência espacial norte-americana (Nasa)

 

O Atlas reúne números e mapas com informações sobre a radiação solar global diária (quantidade de energia solar aproveitável por metro quadrado, em um dia em determinado local), insolação diária (número de horas de brilho do Sol em um dia em determinado local) e médias mensais e anuais de 511 localidades do Brasil e 67 de países limítrofes. Essas informações estavam espalhadas em dezenas de publicações e foram compiladas, organizadas e padronizadas pela equipe de Tiba.

O mapeamento da distribuição do recurso solar permite reconhecer áreas em que o aproveitamento dessa energia é potencialmente significativo. Alguns municípios do Nordeste, como Petrolina (PE), Floriano (PI) ou Bom Jesus da Lapa (BA), têm valores de radiação solar diária comparáveis aos das regiões mais ensolaradas no mundo — como Dongola, no Deserto Arábico (Sudão) e Dagget, no Deserto de Mojave (Califórnia/EUA).

 

Média anual da insolação diária (em horas) no teritório brasileiro
Fonte: Atlas Solarimétrico do Brasil

Segundo o pesquisador, os dados do Atlas servem a diferentes profissionais. “O conhecimento do fotoperiodismo em determinada região permite ao agricultor a escolha da cultura mais adequada à região; um arquiteto pode elaborar projetos com melhor aproveitamento da iluminação natural, e um engenheiro, construir casas que aproveitem o Sol para aquecer água e substituir o chuveiro elétrico.”

 

O processo de transformação dos raios de Sol em energia para aquecer água é simples. Ao serem atingidos pela radiação solar, as placas solares (feitas de alumínio, cobre e vidro) aquecem a água que circula por dentro de tubos de cobre. Já aquecida, a água fica armazenada em um reservatório térmico, o boiler , para ser distribuída em torneiras ou chuveiros.

 

À esq., um piranômetro, instrumento usado para medir a incidência da radiação solar. À dir., um gerador fotovoltaico, que converte a luz solar diretamente em energia elétrica (fotos: Grupo FAE/UFPE)

 

“Antes, se uma pessoa desejasse projetar e montar um sistema de energia solar, não saberia onde procurar as informações sobre a quantidade da radiação solar incidente no local”, diz Tiba. “Agora, com essas informações disponíveis, esperamos facilitar o dimensionamento de sistemas e com isso propiciar uma maior difusão dessa tecnologia.”

Trezentos exemplares de uma tiragem de mil cópias do Atlas foram distribuídos para as bibliotecas das principais universidades públicas do país, algumas universidades particulares e todas as unidades da Embrapa. “Levamos dois anos e meio na execução do projeto e mais o mesmo tempo para convencer os financiadores a bancar a edição”, conta. Uma versão em CD-ROM sairá em breve — faltam os patrocinadores para a prensagem.

Elisa Martins
Ciência Hoje on-line
09/01/03

 

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