Um inseto de apenas seis milímetros de comprimento é capaz de pular proporcionalmente mais alto que qualquer outro animal na natureza. O salto da cigarra da espuma ( Philaenus spumarius ) pode chegar a 70 centímetros — mais de 100 vezes sua própria altura. Isso seria o equivalente de um homem que saltasse uma altura de 200 metros, ou um prédio de cerca de 70 andares.
A cigarra da espuma mede 6 mm se alimenta da seiva de plantas
A velocidade atingida pelas cigarras da espuma chega a cerca de 14 km/h, o triplo do índice alcançado pelas pulgas, antes tidas como as campeãs do salto em altura. A aceleração após o salto pode ser de até 4000 m/s2, ou 408 vezes a da gravidade (seres humanos desmaiam sob efeito de uma aceleração muito menor). O zoólogo Malcom Burrows, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), estudou o mecanismo que torna possíveis pulos tão espetaculares e relatou seus resultados em um artigo na revista Nature de 31 de julho.
Até hoje, eram conhecidos dois padrões diferentes de saltos. Animais como o sapo ou o canguru têm pernas longas que promovem um efeito de alavanca e permitem que façam menos força que animais de pernas curtas para saltar a mesma distância. Estes, por sua vez, armazenam energia nos músculos das pernas e, ao liberá-la, conseguem o impulso para pular.
Os insetos podem utilizar os dois métodos: o grilo usa o poder de alavanca das longas pernas, a pulga usa energia armazenada para impulsionar suas pernas curtas e o gafanhoto combina fatores dos dois padrões. Em seu artigo, Burrows explica que a cigarra da espuma consegue a supremacia absoluta dos saltos porque, apesar dos membros curtos e leves, usa para pular um mecanismo de catapulta desconhecido até então.
O mecanismo catapulta que a cigarra da espuma usa para saltar produz uma
força equivalente a 414 vezes o peso do seu corpo (foto: reprodução/ Nature )
A execução dos enormes saltos da cigarra da espuma requer uma grande quantidade de energia, que não pode ser obtida pela contração direta dos músculos em um curto espaço de tempo. A força muscular do inseto é gerada lentamente antes do pulo e estocada. Isso é feito pelo inseto ao dobrar os membros traseiros na parte de baixo do tórax e prendê-los nessa posição por meio de duas estruturas do membro que se encaixam.
Assim que os músculos da cigarra geram força suficiente para o salto, ela ’solta’ suas pernas, que disparam como um gatilho e a projetam no ar. O músculo do tórax, responsável pelo pulo, corresponde a 11% da massa corporal do inseto. Graças a ele, a cigarra pode ter membros finos e leves, que são facilmente acelerados, o que aumenta a altura do salto. Ao andar, a cigarra da espuma arrasta as pernas traseiras que só são usadas para pular, o que mostra o grau de adaptação do inseto à sua especialidade.
O salto das cigarras da espuma torna praticamente impossível sua captura. “A velocidade as torna quase invisíveis”, disse Burrows à CH on-line . “Esses insetos podem ter desenvolvido essa habilidade justamente para escapar do ataque de pássaros e outros predadores”, especula.
Adriana Melo
Ciência Hoje On-line
01/08/03