Pequeno controlador

Na década de 1980, a aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolia), que ocorre em abundância no Brasil, foi levada para os Estados Unidos como planta ornamental. Hoje põe em risco a biodiversidade de regiões como a Flórida, no sudeste do país.

Com grande capacidade de adaptação, invadiu áreas antes ocupadas por espécies nativas e pode interferir na cadeia alimentar da fauna associada à vegetação que substituiu. Além disso, tem causado alergia em seres humanos.

Para deter a propagação da aroeira, a equipe do pesquisador William Overholt, da Universidade da Flórida, em Fort Pierce, valendo-se do chamado controle biológico clássico, optou pelo emprego da espécie Calophya latiforceps.

Esse inseto, popularmente conhecido como gralha-da-folha-da-aroeira, também nativo do Brasil, alimenta-se de nutrientes da planta, comprometendo seu crescimento. 

Aroeira-vermelha infestada
Aroeira-vermelha (‘Schinus terebinthifolia’) com danos provocados por ‘Calophya latiforceps’. (foto: Patrícia Prade)

Boas perspectivas

A engenheira florestal Patrícia Prade, aluna de pós-graduação da Universidade Regional de Blumenau (Furb), participa do trabalho liderado por Overholt, graças a um convênio entre as universidades.

Em sua dissertação de mestrado, que está em andamento, Prade estuda a espécie Calophya latiforceps, descoberta na Bahia em 2010. A meta, segundo a pesquisadora, é liberá-la na região da Flórida, onde seus estudos estão sendo realizados.

Os resultados obtidos até o momento revelam que a espécie age exclusivamente sobre a aroeira-vermelha. Apesar disso, ainda não se sabe quando a liberação poderá ser feita.

“Precisamos estar seguros de que o inseto terá ação específica, isto é, comprometerá apenas o crescimento da aroeira, sem causar problema para outras espécies e mesmo para o homem”

Antes, a equipe irá avaliar a capacidade de C. latiforceps deter o crescimento da árvore na região, assim como eventuais riscos associados à liberação da espécie.

“Precisamos estar seguros de que o inseto terá ação específica, isto é, comprometerá apenas o crescimento da aroeira, sem causar problema para outras espécies e mesmo para o homem”, diz a pesquisadora da Furb. Os impactos da ingestão da gralha-da-folha-da-aroeira por outros animais também serão analisados.

Segundo Prade, o controle biológico da aroeira-vermelha não deverá ter efeitos secundários, atingindo o mercado madeireiro, por exemplo. A árvore, conhecida nos Estados Unidos como Brazilian peppertree, possui madeira de baixa densidade, com muitos galhos e formação tortuosa, não sendo aproveitada para fins comerciais. A perda dos frutos que a aroeira produz é considerada desprezível.

A árvore e o inseto
A aroeira-vermelha é uma espécie nativa do Brasil, Paraguai e Argentina. No nosso país, é encontrada do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Com alta capacidade de regeneração e de adaptação a novos ambientes, proliferou nos Estados Unidos. Mas, como não é tolerante ao frio, seu desenvolvimento está limitado a algumas regiões daquele país. Parte do ciclo de vida do inseto ocorre na folha da aroeira-vermelha. A área de fotossíntese fica bastante comprometida pelo fato de o inseto alimentar-se de nutrientes essenciais ao crescimento da planta.

Franciele Petry Schramm
Especial para a CH On-line/ PR