Pesquisa realizada no hemocentro de São Paulo revela que o risco de infecção pelo vírus da Aids em transfusões de sangue no estado é de 15 casos por milhão (imagem: Martin van Dalen).
Apesar do controle feito pelos bancos de sangue para evitar a contaminação por doenças transmissíveis, o risco de um paciente contrair o vírus da Aids em uma transfusão ainda é significativo no Brasil. O alerta vem de uma pesquisa realizada no hemocentro de São Paulo, que revela que o número de infecções por HIV devido a transfusões no estado é dez vezes maior do que em bancos de sangue europeus e norte-americanos.
O estudo examinou o material coletado entre 1996 e 2001 pela Fundação Pró-sangue, instituição ligada à Secretaria da Saúde de São Paulo e à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). As doações atingem uma média mensal de 15 mil bolsas, que representam cerca de 24% do sangue consumido no estado.
“Embora a prevalência do HIV nas transfusões tenha diminuído nos últimos anos em São Paulo, o risco de infecção ainda é de 15 casos por milhão, um número que não pode ser considerado baixo”, avalia a médica Ester Cerdeira Sabino, da Fundação Pró-sangue. Os resultados foram apresentados durante a 23ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada em agosto em Águas de Lindóia (SP).
A contaminação em transfusões ocorre porque há um período após a infecção pelo HIV em que o corpo do doador ainda não produziu uma quantidade de anticorpos suficiente para ser detectada pelos exames realizados nos bancos de sangue. “Com os dois testes de anticorpos feitos atualmente, essa janela imunológica é de 22 dias”, conta Sabino.
Comportamento de risco
A situação se agrava porque muitas pessoas vão aos bancos de sangue com a intenção de obter, de maneira rápida, um exame sangüíneo, como mostrou pesquisa feita com doadores da Fundação Pró-sangue. E pior: alguns desses indivíduos têm comportamento de risco e acabaram de se expor ao HIV. “Como eles querem um resultado rápido, procuram os bancos de sangue justamente no período da janela imunológica”, ressalta a médica.
A pesquisa revelou um dado que pode confirmar essa atitude: a prevalência do HIV é maior entre os chamados doadores altruístas (aqueles que vão ao hemocentro por conta própria) do que entre doadores de reposição (que doam sangue porque têm algum parente hospitalizado que necessitou de transfusão).
Para diminuir os riscos de infecção pelo HIV nas transfusões, a pesquisadora sugere a realização de um terceiro teste nas bolsas de sangue, que reduziria a janela imunológica em 11 dias. “Além disso, é preciso tornar mais eficiente a triagem clínica dos doadores e ensiná-los a não doar se tiverem dúvida com relação à sua exposição ao HIV”, acrescenta Sabino. Agora a equipe avalia quais seriam as campanhas mais adequadas para evitar a doação de sangue em caso de comportamento de risco.
Thaís Fernandes (*)
Ciência Hoje On-line
05/09/2008
(*) A jornalista viajou a Águas de Lindóia a convite da Fesbe.