Planeta sobrevive a expansão de estrela

 

Pela primeira vez, astrônomos descobriram um planeta na órbita de uma estrela que ultrapassou o estágio de gigante vermelha da sua evolução. Nessa fase, as estrelas têm um aumento vertiginoso de volume e podem facilmente ‘engolir’ planetas cuja órbita estiver em sua proximidade. A descoberta ajuda a entender a evolução dos sistemas planetários e dá pistas do que pode ocorrer uma vez que o Sol tiver passado por sua expansão de gigante vermelha, daqui a cinco bilhões de anos.

O calor das estrelas é gerado pela fusão de núcleos de hidrogênio em seu interior – uma reação que forma núcleos de hélio e libera uma grande quantidade de energia. A fase de gigante vermelha tem início quando o hidrogênio se esgota: a partir daí, a estrela começa a transformar hélio em carbono e passa por um aumento significativo de temperatura e tamanho – seu raio pode aumentar cerca de cem vezes nesse estágio (leia aqui uma descrição mais detalhada desse processo).

Representação artística do planeta V 391 Pegasi b, em torno da sua estrela, na época em que esta era uma gigante vermelha no auge da sua expansão, há 100 milhões de anos, com um raio de cerca de 100 milhões de km (arte: consórcio  Helas).

O planeta em questão foi encontrado em torno da estrela V 391 Pegasi. A distância que os separa equivale a 1,7 vezes aquela que existe entre a Terra e o Sol. Antes da descoberta do novo planeta, batizado V 391 Pegasi b, ninguém sabia dizer se um corpo tão próximo poderia sobreviver à expansão de uma gigante vermelha.

“Com essa distância orbital, é muito difícil prever com os modelos atuais o que vai acontecer com um planeta durante e após a fase de gigante vermelha”, explica à CH On-line o autor principal do estudo, o italiano Roberto Silvotti, do Observatório Astronômico de Capodimonte, em Nápoles. Silvotti lidera a equipe internacional de 23 astrônomos que assina o artigo relatando a descoberta do planeta na edição desta semana da Nature .

V 391 Pegasi b integra uma lista de quase 250 planetas extra-solares identificados até aqui. Sua descoberta foi feita por acaso: a equipe de Silvotti pretendia originalmente estudar a periodicidade dos pulsos de luz emitidos pela estrela V 391 Pegasi. Essas pulsações ocorrem a cada seis minutos aproximadamente. No entanto, o grupo identificou irregularidades no intervalo com que elas eram captadas por telescópios.

Os pesquisadores iniciaram então uma série de observações e cálculos para explicar essas variações. Sete anos depois, a equipe afastou uma série de outras hipóteses e concluiu, com 97% de certeza, que as irregularidades observadas eram causadas por um planeta com uma órbita de 3,2 anos de duração.

V 391 Pegasi b é um gigante gasoso, com cerca de três vezes a massa de Júpiter. O planeta tem cerca de 10 bilhões de anos e está entre os mais velhos já identificados. Ele é mais quente que a Terra (quase 200ºC de temperatura média), apesar de estar mais distante de sua estrela. Isso se explica porque V 391 Pegasi é uma das mais quentes estrelas entre aquelas que abrigam um sistema planetário, com temperatura da ordem de 30 mil graus centígrados.

O futuro do Sistema Solar
A descoberta de V 391 Pegasi b é importante porque ajuda a entender como os planetas se comportam após a expansão das gigantes vermelhas. A astronomia não é uma ciência experimental, que permita aos estudiosos reproduzir fenômenos em laboratório. Por isso, os pesquisadores dependem de descobertas como essa para entender a evolução dos sistemas planetários.

O Sol, como todas as estrelas, também passará pela fase de gigante vermelha. Quando isso ocorrer, Mercúrio e Vênus certamente serão engolidos por ele à medida que ganhar volume. Já a sorte reservada à Terra divide os especialistas, porque sua distância orbital está no limite alcançado pela expansão das gigantes vermelhas.

Silvotti acredita que, para se prever com maior precisão o futuro da Terra, são necessários modelos mais precisos e mais dados sobre outros sistemas planetários similares ao recém-encontrado. “Nossa descoberta certamente produzirá mais pesquisa nesse campo e, num futuro não muito distante, espero, seremos capazes de prever o que acontecerá com um planeta durante e após a fase gigante-vermelha, a Terra inclusive.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
12/09/2007