Poderosa palmeira

 

O babaçu é uma planta polivalente: matéria-prima para alimentos, combustíveis, casas e cosméticos, a palmeira também pode dar origem a drogas contra o câncer de medula óssea. Isso é o que indica o estudo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que aplicaram uma solução concentrada de extrato de babaçu em células humanas leucêmicas. O resultado foi surpreendente ‐ após quatro horas, todas as células estavam mortas ‐ e as expectativas são otimistas, já que é baixa a probabilidade que o vegetal apresente efeitos nocivos. 

 

null

O babaçu é uma palmeira nativa do Norte e Nordeste. Suas folhas servem como cobertura de casas e ao artesanato e o tronco é usado na construção civil. A farinha feita com o fruto é usada como suplemento alimentar, devido a seu alto valor calórico. O óleo da semente também é muito energético e representa uma boa fonte de combustível renovável, além de ser usado na produção de sabonetes, bronzeadores e produtos para cabelos.

     Os testes com o babaçu fazem parte da tese de mestrado em ciências farmacêuticas de Magdalena Nascimento Rennó, orientada por Carla Holandino e Fábio Menezes. O experimento consistiu em selecionar a casca do fruto do babaçu ( Orbignya speciosa ) e misturá-la com etanol para dissolver o extrato vegetal. A solução foi aplicada em células cancerosas de três linhagens diferentes, e eliminou inclusive um tipo resistente a tratamentos quimioterápicos combinados (Lucena-1). Em células tumorais que só receberam etanol, nada foi verificado, o que comprova a eficácia do extrato.

Ainda não se identificou a substância responsável pela morte das células, nem a forma como atua. Holandino e Menezes pretendem isolar o princípio ativo para obter um controle de qualidade adequado para a atividade farmacológica. “Também precisamos detectar especificidades do extrato, como tempo de atividade e sensibilidade a alterações de temperatura e luminosidade”, diz Holandino.

A casca do babaçu é popularmente conhecida por suas propriedades antiinflamatórias e analgésicas, que foram confirmadas no trabalho dos farmacêuticos da UFRJ em testes com camundongos. No entanto, os pesquisadores dizem que é preciso cautela com as cápsulas de babaçu de composição duvidosa vendidas em lojas de produtos naturais, com a promessa de curar tumores e outras doenças. “Esses produtos sequer têm registro no Ministério da Saúde”, alerta Menezes.

Nos próximos dois meses, os pesquisadores pretendem aplicar o extrato em células normais e verificar se há efeitos colaterais. A planta já foi testada em leveduras, cujas células permaneceram vivas. Sabe-se que a superdosagem em camundongos provoca diarréia, o que é pouco perto das demais reações adversas dos medicamentos tradicionais usados na quimioterapia ‐ queda de cabelo, feridas na boca, dificuldades para engolir, náuseas, vômitos, constipação, infecções, anemia e sangramentos.

null

A imagem da esquerda mostra células leucêmicas de uma linhagem resistente. As outras imagens mostram essas células 24 horas após a incubação com apenas etanol (ao centro) e com o extrato de babaçu (à direita). Fotos: Carla Holandino.

O caminho até a fabricação de um medicamento contra o câncer derivado do babaçu é longo. Uma vez que a substância responsável pela ação anticancerígena for identificada e caracterizada, será preciso realizar uma série de ensaios até que ela possa ser testada em humanos. “Todo esse processo pode durar anos, pois envolve questões éticas, burocráticas e financeiras”, afirma Menezes.


Lia Brum
Ciência Hoje On-line
19/04/05