Saúde para todos. A ambiciosa meta foi levantada como bandeira pela Organização Mundial de Saúde durante o II Simpósio Global sobre Pesquisas em Sistemas de Saúde, realizado na semana passada, em Beijing (China). Para reforçar o movimento político, a entidade lançou no evento dois documentos com recomendações para os países interessados em atingir a cobertura universal de saúde.
Um dos principais conselhos da OMS é unir pesquisa e decisão política. No livreto Changing Mindsets (mudando mentes, em tradução livre), representantes da instituição descrevem a importância da participação da academia nas políticas públicas com exemplos de países que introduziram a prática em suas reformas de saúde.
A China é um dos casos apresentados como exemplo no documento. O país passou, sem sucesso, por diversas reformas em seu sistema de saúde nos últimos anos. A mais recente, iniciada em 2009, conseguiu atingir a marca de 97% da população; isso significa que há no país 1,3 bilhão de pessoas cobertas com seguro de saúde.
Segundo o médico e ministro da saúde chinês Chen Zhu, esse cenário só foi possível porque o sistema de saúde foi construído com base em pesquisas científicas. “Nós temos comitês de acadêmicos trabalhando em conjunto com o ministério para estabelecer as políticas de saúde”, conta. “Por causa de nossos estudos, observamos, por exemplo, que o enfarto era um dos grandes problemas em chineses com mais de 40 anos e, em cima dessa informação, construímos um programa piloto de acompanhamento médico especializado que tem gerado bons resultados.”
O segundo documento, Options for Actions (opções para ação, em tradução livre), enumera formas de governantes e tomadores de decisões implementarem o uso da pesquisa científica em suas políticas de saúde. Algumas das sugestões são a criação de mecanismos institucionais que possibilitem ligação direta dos processos políticos com a academia e mais investimentos em pesquisas.
“A maior parte dos problemas encontrados em sistemas de saúde públicos se deve ao fato de que a pesquisa nessa área tem sido negligenciada e tem recebido poucos recursos financeiros”, afirma a diretora geral da OMS, Margareth Chan, no documento. “Sem evidências científicas, mesmo o maior investimento em sistemas de saúde pode ser em vão.”
Sofia Moutinho*
Ciencia Hoje On-line
* A repórter viajou à China a convite da OMS.