População de gorilas e chimpanzés reduzida pela metade

 

 A população das espécies mais próximas do homem foi reduzida em mais da metade nos últimos 20 anos no seu principal hábitat, a África Ocidental. Um estudo de pesquisadores da Sociedade para a Conservação da Vida Selvagem constatou que a caça ilegal e o vírus Ebola são as principais ameaças à população de grandes macacos -­ gorilas ( Gorilla gorilla ) e chimpanzés ( Pan troglodytes ).

null O estudo, publicado em 6 de abril na edição on-line da revista Nature , recenseou ninhos de macacos no alto das árvores entre 1998 e 2002 ao longo de 4.800 km de floresta equatorial percorridos pelos pesquisadores. É impossível estimar o número exato de macacos a partir apenas da observação dos ninhos — gorilas e chimpanzés são bastante reclusos. O que os cientistas fizeram foi comparar estatisticamente a distribuição espacial atual dos ninhos com aquelas calculadas em estudos anteriores.

Foi possível assim avaliar a evolução populacional das espécies. Os cientistas constataram um declínio da população de grandes macacos de mais de 50% desde 1983. Em 1991, por exemplo, um pequeno recenseamento ao longo um percurso de 20 km de floresta identificou 67 ninhos. Entre 1997 e 1998, um levantamento que percorreu 2.700 km ­- percurso mais de 100 vezes maior ­­ encontrou apenas 91 ninhos de gorilas e chimpanzés.

A má notícia é surpreendente até para pesquisadores preocupados com a conservação das espécies. A República do Congo e o Gabão, países em que se concentrou a pesquisa, são considerados os últimos refúgios dos grandes macacos ­- 80% da população mundial de gorilas e a maioria dos chimpanzés estão lá. “Qualquer um questionado sobre a população desses macacos responderia que eles são muitos. Mas a verdade é que não são”, alerta o coordenador do estudo, Peter Walsh, da Universidade de Princeton. Antes se pensava que os macacos estariam a salvo na África Ocidental — região que possui grandes extensões de florestas ainda intactas.

Mas um inimigo invisível tem dizimado a população de grandes macacos: o vírus Ebola. Primatas que habitam regiões próximas a cidades onde houve um surto da doença contraem o vírus dos humanos. Um outro problema que ocorre há anos é a caça ilegal para comercializar a carne de macaco. O fenômeno tem aumentado com a modernização das empresas de extração de madeira, que avançam pela floresta e estabelecem vilas de trabalhadores, que se alimentam da carne barata de chimpanzés e gorilas.

Nesse ritmo, a população de grandes macacos se reduzirá em 80% dentro de 30 anos ou menos. “Ela não desaparecerá por completo”, afirma Walsh, “mas ficará espalhada em pequenos bolsões isolados, onde é mais difícil se manter.” Segundo o estudo, gorilas e chimpanzés deveriam ser enquadrados como espécies ‘criticamente ameaçadas’ na lista da União Mundial para a Conservação — e não mais como ‘ameaçadas’ (seu status atual). Por isso os cientistas pedem que as leis para proibir a caça ilegal se cumpram e que mais estudos possam controlar a proliferação do Ebola.

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
14/04/03