População de taturanas aumenta com desmatamento

População de taturanas aumenta com desmatamento O desmatamento é o principal responsável pelo aumento populacional da Lonomia obliqua . A conclusão é do pesquisador Roberto Henrique Pinto Moraes, do Instituto Butantan de São Paulo, que verificou que a perda do hábitat natural e a possível extinção dos predadores são as razões para o crescimento do número de taturanas na cidade. Portanto, essas causas estão associadas também às centenas de acidentes com a lagarta, que vêm ocorrendo há mais de dez anos, sobretudo no sul do Brasil. Em contato com a pele humana, o inseto libera por meio de suas cerdas um veneno que provoca hemorragias e pode levar à morte.

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Com o aumento populacional da taturana Lonomia obliqua , cresceu o número de acidentes com o inseto desde 1989, sobretudo no sul do país

A L. obliqua pertence à ordem Lepidoptera (que inclui borboletas e mariposas) e se alimenta preferencialmente de folhas de grandes árvores como cedro e aroeira. Ela vive em comunidades de 80 a 100 animais, que durante o dia ficam agrupados em forma de ‘tapete’. Os acidentes com a taturana começaram a ocorrer quando a expansão de plantações e casas desalojou o inseto, que passou a viver nos pomares — nessas árvores baixas, ele fica numa altura próxima à dos seres humanos. Como agravante, nos últimos estágios larvais a lagarta apresenta cor marrom na pele e verde-musgo nas cerdas, o que dificulta sua visualização.

A extinção de certos inimigos naturais da taturana piora o problema. Roberto identificou pelo menos cinco predadores (três insetos, um verme e um vírus), mas acha que provavelmente existiram outros, entre aves e mamíferos. “A L. obliqua possui cerdas pontiagudas para proteção”, explica. “Elas teriam utilidade contra algum animal que morda ou bique, mas não contra os predadores encontrados.”

 

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A L. obliqua vive em comunidades de 80 a 100 animais, que durante o dia ficam agrupados em forma de ‘tapete’ (fotos: Roberto Moraes)

Alguns inimigos existentes também estão ameaçados. Os agrotóxicos usados nas plantações contra as pragas atingem predadores da taturana — como uma mosca da família Tachinidae e uma vespa da família Icheneumonidae, que depositam seus ovos sobre a lagarta para que as larvas se alimentem de seu corpo. Outro inseto que pode ser afetado é um percevejo da família Pentatomidae, que mata a taturana ao se alimentar de seus líquidos.

 

Há ainda um verme da família Mermitidae, observado uma única vez parasitando a taturana. Por fim, um outro predador, o vírus loobMNPV , deixa as lagartas com aparência amarelada e movimentos lentos e, em apenas uma semana, é capaz de dizimar toda uma colônia.

Embora as taturanas ainda causem acidentes graves, nenhum óbito foi registrado desde a invenção em 1994 do soro anti-lonômico — único tratamento para o veneno da L. obliqua . Mas Roberto acredita que o melhor remédio é a conscientização da população. Nos locais mais afetados, as pessoas estão aprendendo a identificar a lagarta e, sobretudo, a evitar seu extermínio. “Isso acarretaria grande desequilíbrio ecológico, pois a espécie pode ser polinizadora quando adulta”, explica. “E sem ela não podemos fazer o soro.” Para o pesquisador, o desenvolvimento de um inseticida à base do vírus loobMNPV — nocivo só às taturanas — poderia ser a melhor solução para o controle desses insetos.

 

 

Gisele Lopes
Ciência Hoje on-line
19/02/03