Por animais mais sadios

 

Na guerra entre doenças e vacinas, esta última ganhou um novo aliado com o recente seqüenciamento do genoma de duas bactérias que causam doenças em porcos e frangos, ambas do gênero Mycoplasma . O trabalho resultou de um esforço conjunto envolvendo os 30 laboratórios brasileiros ligados ao Projeto Genoma Nacional e o Programa de Investigação de Genomas Sul (Pigs). As informações presentes no genoma das bactérias devem contribuir para a produção de vacinas que irão combatê-las, além de ajudar no diagnóstico das doenças que produzem.

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A Mycoplasma synoviae é uma das duas espécies de bactérias que tiveram o genoma seqüenciado.

As duas redes trabalharam separadamente até o final de 2004. Enquanto o Projeto Genoma Nacional estudava o genoma da Mycoplasma synoviae , causadora de doenças que comprometem a locomoção de frangos, o Pigs seqüenciava o genoma da M. hyopneumoniae , responsável por problemas pulmonares em porcos. Como as bactérias são do mesmo gênero, as duas redes juntaram os resultados e as análises comparativas em um único trabalho, publicado em agosto último no prestigioso Journal of Bacteriology .

 
Segundo o biólogo Edmundo Grisard, da Universidade Federal de Santa Catarina, que participa das duas redes, as informações genômicas dessas bactérias são de grande importância para a agropecuária. “O seqüenciamento é a primeira parte; o passo seguinte será o estudo das proteínas para a produção de vacinas”, diz Grisard.
 
O Brasil perde anualmente US$ 200 milhões com as doenças causadas pela M. hyopneumoniae . A produção de uma vacina para combatê-las reduziria ou mesmo anularia essa cifra no futuro, e o resultado chegaria à sociedade por meio do barateamento da carne de porco. Segundo o biólogo, a seqüência do genoma fornece subsídios para a continuidade das pesquisas – que dariam um valor prático às informações. “O genoma é como uma enorme biblioteca. A informação está disponível ali, mas de nada adianta se ninguém for buscá-la”, compara Grisard.
 
O biólogo defende maior participação da iniciativa privada no investimento em pesquisa. Segundo ele, o custo do seqüenciamento da M. hyopneumoniae foi de aproximadamente R$ 2 milhões – valor irrisório diante das perdas das empresas com o abate de porcos doentes. “Se chegarmos à produção de vacinas, poderemos ter um certificado de animais e produtos derivados livres de Mycoplasma .” De acordo com ele, a certificação brasileira seria única no mundo e agregaria grande valor aos produtos.
 
Por dentro do genoma
Grisard conta que no Brasil os trabalhos em genoma são feitos sempre por uma rede de laboratórios. Ele explica que o DNA da espécie estudada é dividido de forma aleatória em muitas partes. Em seguida cada laboratório recebe um pedaço do DNA e fica responsável por sua ‘leitura’. Os resultados são posteriormente unidos em um centro de bioinformática, que monta todas as partes em uma seqüência completa do genoma.
 
Além de obter as seqüências genômicas das duas bactérias, os pesquisadores fizeram comparações com o DNA de outras nove espécies dos gêneros Mycoplasma e Ureaplasma encontradas em diversas regiões do planeta. O estudo buscou identificar em quais trechos o genoma dessas bactérias varia, com o objetivo de centralizar o estudo nas proteínas para a produção de vacinas.
 
No seqüenciamento da M. hyopneumoniae , os pesquisadores do Pigs trabalharam com duas bactérias: uma extraída de um porco doente e outra de um porco sadio. A comparação dos dois genomas revelou diferenças ligadas à patogenicidade dessas bactérias. Saiba mais sobre o Projeto Genoma Nacional e sobre o Pigs nos links www.brgene.lncc.br e www.genesul.lncc.br .


Murilo Alves Pereira

Especial para a CH On-line / PR
01/12/05