Por um diagnóstico mais preciso e barato

 

O estudo das proteínas encontradas nas células do corpo tem se mostrado um método promissor para o diagnóstico e o acompanhamento da evolução de doenças. Um trabalho do Instituto Nacional de Câncer (Inca) identificou proteínas que se expressam de forma diferenciada em células infectadas por um tipo de leucemia. A pesquisa dará origem a um kit mais barato, preciso e eficaz para o diagnóstico da doença.

O trabalho foi apresentado durante a 23ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada de 20 a 23 de agosto em Águas de Lindóia (SP). Os últimos resultados foram relatados pela geneticista Eliana Abdelhay, chefe da divisão de laboratórios do Centro de Transplantes de Medula Óssea do Inca.

Células sangüíneas com leucemia mielóide crônica. A doença é causada por uma mutação nas células-tronco que pode afetar todas as linhagens de células sangüíneas, principalmente as mielóides (foto: © 2007 Rector and Visitors of the University of Virginia. Charles E. Hess, M.D. and Lindsey Krstic, B.A.).

Os pesquisadores estudaram as proteínas de células da medula óssea de doadores saudáveis e de pacientes com leucemia mielóide crônica, doença causada por uma mutação nas células-tronco que pode afetar todas as linhagens de células sangüíneas, principalmente as mielóides.

Essa doença tem uma fase crônica, em que cresce o número de células-tronco hematopoiéticas (que se diferenciam em células do sangue). Depois, na chamada fase blástica, ocorre o aumento de células que não são mais capazes de se diferenciar e, por isso, perdem sua função, levando o paciente à morte.

A comparação das células de indivíduos saudáveis e doentes mostrou que 22 proteínas têm sua expressão aumentada na fase crônica desse tipo de leucemia e nove não são mais reguladas pelos pacientes. “Essas proteínas foram validadas em mais de cem pacientes e podem ser consideradas marcadores da fase crônica da doença”, afirma Abdelhay.

A equipe também comparou células de pacientes nas fases crônica e blástica e observou que 42 proteínas se expressam de forma diferenciada. Em seguida, estudou células de pacientes submetidos a tratamento com uma droga disponível no mercado.

Marcador diferenciado
Segundo Abdelhay, uma das proteínas ausentes nas células de indivíduos saudáveis, chamada NuMA, surge na fase crônica da doença e fica superexpressada na fase blástica. Quando o indivíduo responde ao tratamento farmacológico, ela volta aos níveis da fase crônica. Em muitos casos, os pacientes são resistentes ao medicamento e a proteína se expressa da mesma forma que na fase blástica.

“Essa proteína pode ser usada para diagnosticar e acompanhar a evolução da doença e para avaliar a suscetibilidade do paciente à droga”, destaca a pesquisadora. O grupo tenta agora inibir a proteína NuMA para verificar se essa estratégia reverteria a doença da fase blástica para a crônica.

Abdelhay diz que os métodos genômicos e proteômicos (relativos ao estudo das proteínas expressas pelos genes) são perfeitos para a identificação de marcadores de diagnóstico e prognóstico de doenças. O grupo pretende reunir as proteínas identificadas e criar um kit que permita o diagnóstico mais eficaz, preciso e barato da leucemia mielóide crônica. “Acredito que esse kit esteja validado em menos de um ano”, prevê a geneticista, ressaltando que não sabe quando ele estaria disponível no mercado.

O método usado atualmente para diagnosticar a leucemia mielóide crônica funciona em 90% dos casos. Mas há alguns fatores que podem prejudicar o diagnóstico da doença, como a ausência de algumas características em nível celular ou o fato de o paciente ter tomado algum medicamento quando os sintomas surgiram. Além disso, poucas são as instituições que fazem o exame. “Nosso kit permitirá que o teste seja feito em qualquer lugar do Brasil”, ressalta Abdelhay.

Thaís Fernandes (*)
Ciência Hoje On-line
22/08/2008

(*) A jornalista viajou a Águas de Lindóia a convite da Fesbe.