Por um futuro ainda mais bonito

A cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, é conhecida por ser um dos pólos de ecoturismo mais importantes do país, devido aos seus rios e lagos de águas cristalinas. Mas a atividade turística praticada de forma imprópria pode provocar graves danos ao ecossistema do lugar, como mostra pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP). Para manter o turismo e a beleza característica da região, é preciso adotar ações adequadas de monitoramento ambiental.

O estudo, conduzido durante o doutorado do biólogo Paulino Medina Júnior na Escola de Engenharia de São Carlos da USP, teve como objetivo identificar os indicadores ambientais mais adequados para monitorar os impactos causados por cada atividade turística. A forma como os ecossistemas aquático e terrestre respondem a essas intervenções também foi analisada durante a pesquisa, realizada ao longo do rio Formoso.

O biólogo, que desde 2001 estuda os ecossistemas aquáticos do planalto da Bodoquena, onde se localiza Bonito, detectou os quatro indicadores ambientais mais apropriados para monitorar a área. São eles: transparência da água, granulometria dos sedimentos, riqueza de organismos bentônicos (que vivem nos fundos dos rios e lagos, entre os sedimentos) e integridade física do ecossistema – parâmetro ainda pouco usado pela comunidade científica, segundo o próprio pesquisador.

“Nesse estudo, a integridade física foi avaliada pela preservação do fundo do rio e das tufas calcárias (cachoeiras que se formam pela crescente deposição de carbonatos no fundo do rio) e pela diversidade de hábitats no local”, esclarece Medina Júnior. E destaca: “A existência de vários substratos distintos (galhos, folhagens, troncos, rochas, plantas aquáticas etc.) garante condições de sobrevivência a um número maior de espécies.”

Além desses fatores, o estudo analisou aspectos relacionados ao ecossistema terrestre nas proximidades do rio, como o estado da vegetação ribeirinha e o grau de proteção dos barrancos. “Incluímos toda a área de preservação permanente a partir da margem do rio”, diz o pesquisador.

As maiores ameaças

A preservação das tufas calcárias (cachoeiras que se formam pela crescente deposição de carbonatos no fundo do rio) foi um dos fatores levados em conta na avaliação da integridade física dos ecossistemas aquáticos do rio Formoso, característica que pode ser usada para o monitoramento dos impactos de práticas turísticas inadequadas na região.

Segundo Medina Júnior, os impactos ambientais estão relacionados ao tipo de atividade desenvolvida e às características dos ecossistemas em cada trecho do rio. As atividades em que o turista tem maior contato com o fundo do rio e com as tufas calcárias, como o banho e o passeio de bote, são as que oferecem maior risco de alteração ambiental.

O biólogo explica que o pisoteio levanta os sedimentos, o que reduz a transparência das águas e prejudica a atratividade da visitação. A diversidade biológica do ecossistema também fica comprometida, uma vez que, no fundo do rio, está a alimentação dos organismos bentônicos, que vivem misturados aos sedimentos e fazem parte da cadeia alimentar de outros seres vivos. Nas margens e tufas, o contato direto dos turistas provoca erosão. Além disso, a destruição desses ambientes compromete o hábitat de diversas espécies.

“Por outro lado, vimos que o banho e o passeio de bote não interferem na qualidade da água, nem na granulometria dos sedimentos”, constata o biólogo. “Por isso, não são bons indicadores para o monitoramento dos impactos causados por essas atividades”, conclui, alertando para a ineficácia de se adotarem os mesmos indicadores para monitorar todas as práticas turísticas.

Entre as atrações que oferecem menos riscos ao ecossistema de Bonito, destaca-se o arvorismo (travessia entre plataformas montadas no alto das copas das árvores). “Nesse caso, o contato do turista com o ambiente aquático é muito reduzido”, explica o pesquisador.

Educação ambiental como estratégia
Medina Júnior também traçou um perfil sócio-econômico dos turistas que estiveram em Bonito durante o carnaval de 2006, época em que coletou os dados da pesquisa. Ele alerta que, apesar de a maioria desses visitantes ser de nível superior e ter acesso a informações ambientais, muitos apresentavam comportamentos prejudiciais à preservação do ecossistema.

“Com esses dados, conseguiremos auxiliar a elaboração de medidas de educação e gestão ambientais para a região”, planeja o pesquisador. E destaca: “A postura do visitante, junto com a implementação de medidas estruturais e o monitoramento constante de atividades e ecossistemas, é essencial para a manutenção do ambiente e a redução dos impactos gerados.” 

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
02/06/2008