Pousos mais seguros

A segurança de pousos e decolagens de aeronaves depende diretamente da aderência entre seus pneus e as superfícies das pistas dos aeroportos (foto: Wikimedia Commons).

A aderência entre os pneus dos aviões e a superfície da pista de aeroportos é fundamental para pousos e decolagens tranqüilos. A falta de segurança da pista de Congonhas, em São Paulo, é um fator que pode ter contribuído para o acidente com o avião da TAM que matou 199 pessoas em 17 de julho.

Para melhorar o monitoramento das condições das pistas, um estudo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) propõe a adoção de um novo método de análise, que une dados detalhados sobre diferentes parâmetros que influenciam a aderência de uma superfície.

As pistas aeroportuárias podem ter a aderência prejudicada pelos chamados agentes contaminantes: neve, gelo, água, óleo, areia ou poeira. Geralmente, a avaliação da aderência é feita por um equipamento móvel chamado MuMeter, que mede o coeficiente de atrito da superfície. Quanto maior for esse coeficiente de atrito, maior será a aderência dos pneus à pista e menor a chance de acidentes. O aparelho também possui um sistema capaz de simular as condições de pista molhada.

A nova metodologia, desenvolvida pelo engenheiro de transportes Oswaldo Sansone Rodrigues Filho em sua dissertação de mestrado, alia os dados obtidos pelo MuMeter às medições de outras características da pista: microtextura, macrotextura e drenabilidade. Segundo Sansone, a junção dessas informações permite realizar uma análise estatística objetiva e fundamentada das condições da pista. “Os outros métodos são capazes de dizer, por exemplo, se uma pista está boa ou ruim, mas não conseguem identificar as causas”, afirma.

Medições diversas

A nova metodologia propõe o uso do MuMeter, retratado na imagem do alto à esquerda (foto:Infraero) aliado à medição de outros parâmetros da pista – em sentido horário, macrotextura, drenabilidade e microtextura (fotos: Oswalldo Sansone/ LTP-USP).

A técnica que avalia a macrotextura determina a profundidade de pequenos picos e vales existentes na pista que influenciam a capacidade de escoamento da água. Para fazer essa medição, observa-se como um determinado volume de areia se espalha por esses picos e vales.

“Quanto maior for a macrotextura, ou seja, quanto maior for a profundidade dos pequenos picos e vales da pista, maior será o escoamento de água e a aderência”, explica o engenheiro. Ele destaca que a macrotextura é melhorada pela ação do grooving , canaletas de 6 x 6 mm feitas nas laterais das pistas para escoar a água.

A avaliação da drenabilidade da superfície está diretamente ligada à da macrotextura. Esse parâmetro indica a capacidade de drenagem da água pelos picos e vales presentes na superfície do pavimento e é medido pelo tempo que a água leva para escoar de um cilindro plástico transparente colocado sobre a pista. Já a análise da microtextura é feita com um equipamento conhecido como pêndulo britânico, que determina o quão lisa ou áspera a pista está. Quanto mais áspera, maior a aderência da pista.

Sansone esclarece que o uso do MuMeter, apesar de eficiente, oferece valores absolutos de coeficiente de atrito, sem discriminar as medidas de macrotextura, microtextura e drenabilidade. “A metodologia proposta é capaz de obter valores específicos, o que facilita a identificação de problemas e a melhor forma de resolvê-los”, destaca. “Os resultados podem servir de subsídio para o emprego de misturas asfálticas mais aderentes e a adoção de outras técnicas de manutenção além das convencionais.”

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
17/10/2007