Premiadas na ciência

Os laboratórios científicos foram dominados por homens durante muito tempo. Mesmo que esse quadro mude cada vez mais rápido, os grandes prêmios da área ainda não contemplam igualmente os dois sexos.

Em um ano em que três mulheres foram laureadas com o Nobel da Paz, o prêmio L’Oréal/ABC/Unesco Para Mulheres na Ciência, que desde 2006 consagra sete jovens cientistas nacionais, reforça sua tradição.

A iniciativa premia com 20 mil dólares os projetos submetidos que mais se destacaram nas categorias Ciências Físicas, Ciências Químicas, Ciências Matemáticas, e nas Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde – quatro mulheres são agraciadas nesta última. 

Entre as vencedoras está a física Ana Luiza Cardoso Pereira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela recebeu o prêmio na categoria Ciências Físicas pelo projeto ‘Propriedades eletrônicas e efeitos de desordem em mono e em multi-camadas de grafeno’.

A pesquisadora trabalha há mais de quatro anos com o material cuja descoberta rendeu o Nobel de Física para os russos Andre Geim e Kostantin Novoselov em 2010 e que vem tendo grande destaque em diversas áreas científicas. 

Grafeno
A física Ana Luiza Cardoso Pereira foi laureada por seu trabalho com o grafeno, material bidimensional formado por átomos de carbono unidos em um plano atômico com a estrutura da grafite. (imagem: Wikimedia Commons)

“Estudar um material novo é muito motivador porque ainda há espaço para dar contribuições, para descobrir coisas novas sobre ele”, ressalta Pereira.

Com nove trabalhos publicados sobre o estudo do grafeno, a pesquisadora trabalha com simulações em computador do material, analisando fatores como o seu comportamento energético.

“Um tema geral que interliga esses meus diferentes trabalhos é entender como imperfeições na rede do grafeno influenciam as suas propriedades e a sua impressionante capacidade de conduzir corrente elétrica”, explica.

Por um remédio mais eficaz

Já a farmacêutica Rubiana Mara Mainardes foi uma das laureadas na categoria de Ciências Biomédicas, Biológicas ou da Saúde pelo projeto ‘Desenvolvimento tecnológico e avaliação da eficácia e toxicidade de sistemas nanoestruturados poliméricos contendo anfotericina B’.

Pesquisadora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Mainardes trabalha desde o início do mestrado, em 2002, com nanobiotecnologia aplicada a fármacos. O objetivo de seus trabalhos é criar e avaliar sistemas nanoestruturados para liberação controlada de fármacos.

Mainardes: “Eu venho desenvolvendo estudos em nanotecnologia com diversas substâncias, procurando manter sua eficácia e diminuir seus efeitos colaterais”

“Eu venho desenvolvendo estudos em nanotecnologia com diversas substâncias, procurando manter sua eficácia e diminuir seus efeitos colaterais”, afirma a farmacêutica.

Entre as substâncias estudadas por Mainardes estão o resveratrol, presente na uva e dono de propriedades que supostamente retardam o envelhecimento, e o anfotericina B, fármaco utilizado em infecções por fungos. Este último é o objeto de estudo do projeto vencedor, com o qual a pesquisadora já atua há quase dois anos.

“O trabalho procura aprimorar esse fármaco, testando a toxicidade e eficácia de um protótipo para podermos ter um medicamento melhor.”

Um empurrãozinho em boa hora

O grande diferencial do Prêmio L’Oréal/ABC/Unesco é premiar pesquisadoras em início de carreira – a candidata não pode ter concluído doutorado há mais de seis anos –, estimulando as jovens a seguir suas jornadas na ciência.

A premiação não traz apenas uma compensação financeira para as vencedoras; ela rende uma maior visibilidade, tanto para seus projetos quanto a todas as mulheres pertencentes ao mundo científico.

“Receber esse prêmio mostra que estou no caminho certo e também amplia a minha rede de contatos e ainda nos valoriza como mulheres”, enfatiza Mainardes.

Pereira: “Os filhos estão dando certo e sentir que a vida de pesquisadora também está dando certo em meio a essa roda-viva é uma alegria enorme mesmo”

Além disso, a láurea serve como um incentivo pessoal e profissional para mulheres que muitas vezes lidam com a maternidade e a pesquisa simultaneamente. “Os filhos estão dando certo e sentir que a vida de pesquisadora também está dando certo em meio a essa roda-viva é uma alegria enorme mesmo”, conclui Pereira.

As outras vencedoras foram: Mariana Antunes Vieira, na categoria Ciências Químicas; Viviane Ribeiro Tomaz da Silva, na categoria Ciências Matemáticas; e Daniela Bonaventura, Josimari Melo de Santana e Tatiana Barrichello na categoria Ciências Biomédicas, Biológicas e da Saúde.

Ana Carolina Correia
Ciência Hoje On-line