Previsão segura do desmatamento

 

Um método desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) permite resolver o problema de como prever as áreas mais suscetíveis ao desmatamento na Amazônia. A técnica de análise cruza dados estatísticos de períodos anteriores com as características biofísicas da floresta e apresentou uma confiabilidade de mais de 70% nas análises já realizadas.

Foto aérea de área desmatada na Amazônia para dar lugar a lavoura de soja (foto: T. Searchinger/Univ. de Minnesota).

A pesquisa foi elaborada por Darcton Policarpo Damião, diretor do Instituto de Estudos Avançados, do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) da Aeronáutica, em tese de doutorado apresentada para o Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB.

A ferramenta estatística desenvolvida por Damião é capaz de oferecer uma análise multivariada, a partir da observação da ocorrência de desmatamento em anos anteriores. O método leva em conta dados referentes a características físicas do terreno, como declividade, proximidade de área desmatada, distância de rodovias, altitude, distância de hidrovias e existência de áreas de proteção ambiental, entre outras.

“Essas variáveis foram escolhidas por serem espacialmente explícitas e quantificáveis”, esclarece o pesquisador. “Por isso, elas podem ser manipuladas pelo sistema de informação geográfica, de modo a gerar mapas das áreas com maior potencial de desmatamento. E foi isso que fizemos”.

De acordo com Damião, existem outros modelos de previsão do desmatamento, mas com abordagens diferentes. “Praticamente todos os modelos usados atualmente trabalham com cenários e se baseiam em variáveis sócio-econômicas, bastante difíceis de serem computadas”, atenta o pesquisador. “Além disso, eles se prestam melhor para previsões voltadas a um futuro mais distante”.

O modelo proposto na tese, diferentemente dos demais, considera apenas as variáveis biofísicas e trabalha com situações baseadas em dados concretos. “Dessa forma, conseguimos antecipar as áreas mais suscetíveis ao desmatamento de maneira mais confiável e em períodos de tempo menores”, garante Damião.

Resultados alcançados
Para desenvolver o novo método, o pesquisador estudou os dados disponíveis, de 1985 até 2004, de uma área a sul do município de São Félix do Xingu (Pará), de 34.000 km 2 . O local foi escolhido devido à disponibilidade dos dados e pelo alto grau de degradação que sofreu ao longo de quase duas décadas.

“Foi necessário observar as relações existentes entre variáveis biofísicas identificadas em imagens capturadas pelo satélite Landsat para seis datas entre os anos de 1985 e 2004”, explica Damião. Isso foi feito a partir de informações geradas pelo método desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para calcular taxas anuais de desmatamento na Amazônia, chamado de Prodes Digital. Ao analisar os dados referentes ao ano 2000, em vez de adotar procedimento anterior, de cruzamento de variáveis, Damião optou por traçar uma projeção para o ano de 2004.

“Nesse momento, chegamos a um resultado melhor do que o esperado. Isso porque a situação prevista pelo método coincidiu em mais de 70% com a que figurou no ano de 2004”, relata. “Dessa maneira, ficou comprovado que o novo método pode ser usado como uma ferramenta para antecipar esses eventos de degradação na Amazônia, de modo a otimizar o uso dos recursos para combatê-los, pois saberemos onde atacar o problema”, estima Damião.

Apesar dos bons resultados alcançados, ainda não há previsão de quando o método será utilizado oficialmente. “Até aqui, o trabalho de pesquisa foi conduzido individualmente, por se tratar de uma tese de doutorado”, explica o pesquisador. ”A adoção desse sistema em caráter operacional depende do envolvimento de um número maior de técnicos a serem disponibilizados por uma ou mais instituições governamentais interessadas em absorver a tecnologia desenvolvida.” 

Andressa Spata
Ciência Hoje On-line
27/03/2008