A efetividade das vacinas e o poder dos dados

Ferramenta essencial no combate à pandemia de covid-19, as vacinas ainda suscitam muitas perguntas da população em geral e, também, dos próprios cientistas. Para avaliar a efetividade dos quatro imunizantes usados no Brasil na vida real e orientar as ações dos gestores de saúde, foi criado, pela Fiocruz, o projeto Vigvac Covid-BR. Em dezembro de 2021, o grupo multidisciplinar lançou seu primeiro boletim sobre efetividade e apresentou ótimas notícias. No Brasil, nas faixas etárias de 20 a 80 anos, as vacinas tiveram eficácia entre 83 e 99% para casos graves e óbitos. Coordenador do grupo, o imunologista MANOEL BARRAL-NETTO, no entanto, pede precaução: “Não estamos em céu de brigadeiro, ainda poderão vir turbulências”. O pesquisador da Fiocruz Bahia, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia e membro da Academia Brasileira de Ciências destaca ainda que não se pode desvincular a efetividade das vacinas do momento da pandemia: “É preciso ter cautela para analisar os dados. A eficácia de todas elas pode estar superestimada porque a força da infecção estava muito baixa em outubro e novembro. A ômicron pode mudar isso tudo muito rapidamente”. Nesta entrevista, Barral-Netto fala dos muitos estudos desenvolvidos pelo grupo e da importância de trabalhar com um banco de dados de mais de 150 milhões de brasileiros.

CRÉDITOS FOTO: DIVULGAÇÃO/FIOCRUZ BAHIA

CIÊNCIA HOJE: Como funciona o Vigivac e qual o objetivo?

MANOEL BARRAL-NETTO: É um sistema de monitoramento digital de avaliação de todas as quatro vacinas em uso no Brasil contra covid-19. Não é um acompanhamento do número de vacinas aplicadas, mas sim da efetividade dessas vacinas. Isso é feito linkando os dados da vacinação com os de internação de síndromes gripais e de Síndrome Respiratória Aguda Grave. O ideal seria ter também dados da assistência primária, mas ainda não foi possível. Esse trabalho pode ser adaptado para outras síndromes. Como grupo de pesquisa, estamos fazendo isso durante a pandemia, mas o ideal é que esse modelo seja absorvido e aperfeiçoado pelo Ministério da Saúde. Isso seria muito útil para a saúde pública. Além da efetividade, conseguimos fazer outros tipos de estudo que podem contribuir para a gestão de saúde. Criamos um painel, por exemplo, para monitorar o atraso na segunda dose e da dose de reforço, que agora está prejudicado pelo apagão de dados do Ministério da Saúde.


Temos muito cuidado com os dados pessoais, aos quais sequer temos acesso, atualmente é uma base de mais de 150 milhões de pessoas

Por Valquíria Daher
Jornalista, ICHC