Aluga-se uma ama de leite, portuguesa, com o primeiro leite, de um mês, tendo de idade 22 anos, de boa conduta; na Rua do Lavradio n.186, sobrado (Jornal do Brasil, 22 de abril de 1903, p. 3).
Anúncios de amas de leite eram corriqueiros no Jornal do Brasil no início do século 20 e alertavam para um mercado de trabalho intenso. Ainda hoje, não é estranho ouvir ou conhecer alguém que tenha sido amamentado quando criança por uma ama, por conta de problemas com o leite materno ou pela necessidade de a mãe trabalhar.
Durante séculos, a ama de leite foi utilizada por famílias abastadas. No caso do Brasil, muitas eram mulheres escravizadas que, em virtude do parto, aleitavam os filhos dos senhores, sendo, por vezes, impedidas de alimentar seus próprios filhos e alugadas para terceiros, gerando renda.
Compreender o papel desempenhado por essas mulheres no Rio de Janeiro no momento posterior à abolição da escravidão, ocorrida em 1888, foi o alvo de nossa pesquisa realizada no Programa de Pós-graduação da Casa de Oswaldo Cruz. O período estudado foi marcado pelas preocupações médicas com a alimentação infantil, em especial o leite artificial e as amas de leite, devido à mortalidade que assolava a cidade e a transformava em questão de saúde pública.
Caroline Gil
Mestrado em História das Ciências e da Saúde,
Casa de Oswaldo Cruz,
Fundação Oswaldo Cruz