Biomassa brasileira

Bagaços, palhas e caroços podem gerar tanta riqueza quanto o cultivo de cana-de-açúcar, grãos, mandioca, frutas e o extrativismo florestal. A agroindústria é um dos principais setores da economia do Brasil, mas o reaproveitamento de seus resíduos, a chamada biomassa vegetal, pode levar o país ao protagonismo na transição inevitável para uma economia de baixo carbono, que gera menos prejuízos ao meio ambiente. A biomassa é matéria-prima para combustíveis, energia e diferentes tipos de produtos importantes para a indústria. A exploração dessa riqueza, no entanto, requer tecnologias diversificadas, avançadas e economicamente viáveis.

País de proporções continentais e rica biodiversidade, o Brasil tem a agroindústria como um de seus principais setores da economia. As plantações de cana-de-açúcar, grãos, frutas e o extrativismo nas florestas geram resíduos – a chamada biomassa vegetal – que têm um impacto ambiental severo quando não descartados corretamente. Essa biomassa, entretanto, pode se transformar em matéria-prima renovável para a geração de energia e de produtos com maior valor agregado. E não há ciclo produtivo mais virtuoso do que aquele em que os resíduos de uma atividade econômica são reaproveitados para outras atividades, evitando o seu acúmulo e gerando ainda mais riqueza.

As biomassas mais comuns no Brasil, pela dimensão de sua atividade agroindustrial e de extrativismo, são bagaço e palha da cana-de-açúcar, palha de milho, palha de trigo, palha e cascas de arroz e resíduos do processamento de cítricos, do coco, do açaí, da mandioca, do óleo de palma, da macaúba e do café. Apesar de já existirem tecnologias para o processamento industrial de algumas dessas biomassas, a diversidade dos materiais ainda exige o desenvolvimento de processos que valorizem o potencial de cada um deles.

Ainda que as biomassas apresentem composição química e características estruturais comuns, cada tipo de resíduo tem peculiaridades próprias à sua espécie vegetal, com potenciais distintos para a geração de novos produtos. Por exemplo, a palha do milho é diferente dos resíduos de eucalipto que, por sua vez, são diferentes do bagaço da laranja e das sementes do açaí. Diante dessa diversidade, as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) são fundamentais para encontrar soluções inovadoras visando à exploração integral da riqueza desses recursos renováveis. Essas novas tecnologias precisam incluir preservação ambiental, ser economicamente viáveis e ter impacto social.

Elba P. S. Bon, Marina Cristina Tomasini, Mariana de Oliveira Faber e Ricardo S. Sobral Teixeira
Instituto de Química,
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Ayla Sant’Ana da Silva e Viridiana S. Ferreira-Leitão
Laboratório de Biocatálise,
Instituto Nacional de Tecnologia