CIÊNCIA HOJE: Quais as causas da atual crise hídrica??
Paulo Artaxo: Creditar uma “crise hídrica” somente à falta de chuva é fazer uma análise muito superficial. A crise tem várias componentes. A primeira delas é a meteorológica, com um ano em que a La Niña é um evento moderado. E temos outras três questões: com o aquecimento global, cujo principal causador é a queima dos combustíveis fósseis pelos países desenvolvidos, todos os modelos climáticos preveem que vai diminuir a quantidade de chuva na Amazônia e no Brasil central. Na verdade, já estamos observando essas alterações no padrão de chuvas. Outro ponto é o desmatamento da Amazônia. É bem conhecido da ciência que a Amazônia é um gigantesco processador de vapor de água gerada no oceano Atlântico tropical, carreando esta água para o Brasil Central e para o Sudeste brasileiro. Se os mecanismos que regulam o processamento deste vapor de água são alterados, há impactos na chuva. Por último, há a questão do planejamento energético. O Brasil tem uma vulnerabilidade muito grande em relação à geração de hidroeletricidade, e o agronegócio brasileiro é muito dependente do clima. Uma das funções de um governo é identificar e diminuir essas vulnerabilidades. Ao longo dos últimos 10, 15 anos, o Brasil deveria ter investido pesadamente em energia solar e eólica, cujo potencial é enorme, principalmente, no Nordeste, e com isso utilizar a água das hidrelétricas como sistema de regulação, para quando não tem sol ou vento. Em resumo, a chamada crise hídrica se deve a múltiplas questões: meteorológicas, à falta de planejamento energético, ao desmatamento da Amazônia e ao aquecimento global.
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Valquíria Daher
Jornalista, ICH