Colisões como fábricas de radiação no universo

O que pareceu ser uma nova estrela surgiu no céu. E o que foi aprendido com ela foi revelador: cientistas deram novos passos no entendimento de eventos estelares explosivos, mostrando como é produzida parte substancial da luz do universo.

Era noite em 20 de março de 2018, quando entrou em cena um par de estrelas que até então tinha passado despercebido. A ‘dupla’ estelar V906 Car reluziu e, por isso, foi notada por Cassius, sistema robótico de quatro telescópios com diâmetros de 14 cm que, em terras chilenas, seguia sua rotina de monitorar o céu, como membro do projeto ASAS-SN de busca por supernovas.

Sob o código ATel #11508, foi lançado alerta “de uma nova estrela no céu”. Com isso, telescópios terrestres e espaciais foram mobilizados para estudar o fenômeno. Coincidentemente, um dos integrantes desse arsenal de equipamentos científicos, um telescópio com diâmetro de apenas 3 cm, observava a região do céu onde está V906 Car. Era o Brite-Toronto, um de cinco nanossatélites do projeto Brite (sigla, em inglês, para algo como ‘explorador de alvos brilhantes’).

Foi assim que, por acaso, um telescópio espacial de menos de 10 kg e não muito maior do que uma caixa de sapatos registrou, desde o início e sem interrupção, a variação de brilho na faixa de luz visível de V906 Car. Informações também foram coletadas por outros telescópios espaciais e terrestres que, juntos, cobriram o evento em todo o espectro eletromagnético – ou seja, das ondas de rádio até os energéticos raios gama.

Região do céu em que surgiu, em março de 2018, a nova V906 Car, destacada à direita com dois traços
Crédito: Franz Hofmann & Wolfgang Paech – Observatório Chameleon E Onjala

Raimundo Lopes de Oliveira Filho

Departamento de Física,
Universidade Federal de Sergipe e
Observatório Nacional (RJ)