Este artigo relata uma análise das dinâmicas e práticas do mercado ‘agro-bioquímico-tecnológico alimentar’ – como definido pela autora – sob a ótica dos direitos humanos. Para isso, partiu-se de conceitos e métodos da sociologia econômica, destacando em particular a noção de campo econômico do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002).
Segundo Bourdieu, o campo econômico é produto de uma construção social, um espaço criado pelos agentes econômicos (empresas e demais atores do setor), que, nas suas relações de poder, deformam o espaço ao seu redor e moldam sua estrutura, de acordo com o capital (econômico, tecnológico, financeiro) que possuem.
O processo de produção de alimentos é longo e complexo. Longo, porque inclui desde o cultivo da semente, o transporte, o armazenamento, os processos industriais e biotecnológicos até a comercialização, a distribuição e o consumo. É complexo porque essa cadeia de produção é fragmentada globalmente, o que significa que os diversos nós que integram cada etapa desse processo estão espalhados pelo mundo, principalmente, nos países do hemisfério Sul.
Essas cadeias globais constituem um sistema de produção coordenado mundialmente e criam padrões particulares de mercados. A forma de organização espacial do mercado acarreta dificuldades para rastrear os nós da cadeia de produção e, como consequência, para identificar e responsabilizar por violações aos direitos humanos.