Do mar aos coprólitos e à saúde silvestre

Frustrada em uma expedição com Jacques Custeou, a bióloga Marcia Chame desistiu da biologia marinha e abraçou a paleoparasitologia, contribuindo para a conservação da biodiversidade e conquistando diversos prêmios na área.

Somos na profissão o reflexo da nossa história. As vezes com caminhos que se bifurcam, mas aí está a graça. Sou filha de escaladores e conhecer o Brasil, de carro, nas férias, sem destino certo, me aproximou dos mais variados ambientes e pessoas, de norte a sul. Ainda era comum acolhermos animais abandonados e doentes, mas não só cães e gatos.Atobás, preás, sapos e um albatroz também foram amparados. Impossível então não querer ser bióloga.


O caminho desejado era a biologia marinha e investi nisso. Mas tudo mudou depois da frustrada participação na expedição Calypso com Jacques Cousteau, na Amazônia, no último período da faculdade.

Na adolescência e juventude fui atleta e, embora o caminho mais fácil fosse cursar educação física, a biologia se manteve no meu foco, assim como o mar. Tive a possibilidade de cursar a Universidade Santa Úrsula e ter professores espetaculares e rigorosos, além de laboratórios, biblioteca e muitos, muitos trabalhos de campo. Sempre penso como seria transpor os estudantes de hoje para as salas de aula de Herman Lent, Graziela Barroso, Madre Francisca,comandante Luís Ferraz e tantos outros. Tive muita sorte em tê-los na minha formação.

O caminho desejado era a biologia marinha e investi nisso. Mas tudo mudou depois da frustrada participação na expedição Calypso com Jacques Cousteau, na Amazônia, no último período da faculdade. Outros caminhos se abriram e fui acolhida na Fiocruz por Luiz Fernando Ferreira, o criador da paleoparasitologia. Pela sua orientação, encontrei outros rumos e fui,com Adauto Araújo,parar no Piauí, na Serra da Capivara, onde Niéde Guidon fazia escavações arqueológicas. Meu trabalho foi desenvolver uma metodologia para identificar se os coprólitos (fezes mumificadas naturalmente) encontrados eram de humanos e animais. Não parecia, e até hoje não parece, nada glamurosa esta pesquisa, mas nela encontrei a linha que construiria minha vida científica.

Marcia Chame

Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre, Fiocruz