Inteligência artificial requer olhar crítico

Para o cientista cognitivo Diogo Cortiz, ChatGPT é ponto de inflexão no desenvolvimento da IA, mas a sociedade, que passa por momento de “maravilhamento da tecnologia”, precisa discutir consequências sociais, psicológicas e econômicas
 
 

Quando o cientista cognitivo Diogo Cortiz ingressou no mestrado, em 2008, já sabia que queria trabalhar com Inteligência Artificial (IA), mas com uma abordagem multidisciplinar, para além das questões técnicas. Hoje professor da PUC-SP, onde fez doutorado em Tecnologia da Inteligência e Design Digital, Cortiz continua “apostando em pesquisas curiosas”, como escreve em suas redes sociais, que lhe permitam “explorar o potencial da imaginação humana para responder perguntas a partir de novo arranjo conceitual.” Para ele, ferramentas de IA, como o ChatGPT, são desenhadas para um propósito, mas trazem muitas consequências que devem ser analisadas. “O olhar crítico sobre a tecnologia e seus efeitos faz com que a utilizemos da melhor forma. Éramos otimistas com a internet, que democratizaria o acesso, todo mundo poderia falar. E aí tivemos esse movimento de apropriações por players específicos, concentração de poder nas mãos de algumas poucas plataformas. Temos que olhar de forma sistêmica para as tecnologias.”  

CIÊNCIA HOJE: O ChatGPT, com a imensa popularidade que conquistou imediatamente em seguida ao seu lançamento, representa um ponto de não retorno em termos de IA?

DIOGO CORTIZ: O ChatGPT é, sem dúvida, um ponto de inflexão no processo de desenvolvimento da Inteligência Artificial. Ele marca um momento a partir do qual teremos, cada vez mais, modelos de IA maiores, mais poderosos e sofisticados, capazes de produzir resultados mais interessantes para os usuários. Por trabalhar com linguagem, forma como nós, humanos, nos comunicamos, organizamos nossos pensamentos, o ChatGPT chama mais a atenção.