Jornalismo e divulgação: por um debate mais qualificado

Em tempos de covid-19, quando notícias de ciência ocupam grande parte do espaço midiático, uma pauta antiga parece estar voltando à tona: jornalismo científico é o mesmo que divulgação científica? Para ter um debate produtivo sobre o assunto, é necessário conhecer a história dos dois campos, colher as evidências e analisá-las sob um olhar crítico e criterioso.

Não é incomum para quem estuda divulgação científica ouvir toda sorte de afirmações equivocadas sobre a área. Por exemplo: “a divulgação científica no Brasil é jovem”; “não há pesquisa no campo no país”; “para se especializar, só lá fora”. Trata-se de ‘notícias falsas’ – a não ser que comparemos a trajetória brasileira com a de países europeus com mais tradição na área, o que poderia nos levar a relativizar os pelo menos dois séculos da divulgação científica nacional. De todo modo, nenhuma dessas afirmações passaria incólume por uma checagem de fatos. 

Há, no entanto, uma discussão antiga voltando à pauta para a qual a técnica de checagem de fatos não é tão útil, pois ela está longe de envolver apenas fatos: jornalismo científico é divulgação científica? Por ser um tema complexo, carregado de nuances, disputas e questões de identidade, é natural que haja uma ampla diversidade de posicionamentos e argumentos em jogo, mobilizados por diferentes atores, ocupando diferentes espaços. No entanto, preocupa na renovação desse debate a tentativa de alguns de pôr fim à discussão com afirmações contundentes e, muitas vezes, equivocadas sobre ambos os campos.

 


O QUE OCORRE É QUE, MUITAS VEZES, EM SEU ÍMPETO DE SE DIFERENCIAR DO DIVULGADOR, O JORNALISTA DESCREVE A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DE FORMA SIMPLISTA E ENVIESADA

Carla Almeida
Núcleo de Estudos da Divulgação Científica,
Museu da Vida,
Fundação Oswaldo Cruz