Sou a primeira pessoa da minha família a concluir o ensino superior. Ingressei na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1982, sem ter a mais remota perspectiva de me tornar cientista – simplesmente porque nunca havia sido apresentada a esta possibilidade como profissão. Cresci num ambiente que não era muito rico sob o ponto de vista intelectual, mas que muito valorizava a educação. Meus pais sempre disseram que a melhor herança não é aquela relacionada ao patrimônio financeiro, mas sim ao nível educacional dos filhos. Ou seja, meus irmãos e eu sempre fomos estimulados a estudar e ingressar no ensino superior.
Tive sérias dúvidas ao escolher a minha profissão. Durante o ensino básico, sempre me identifiquei muito com a matemática, a física e a química. Estava certa de que seguiria uma carreira relacionada à área das exatas ou das tecnológicas. Fiz teste vocacional e o resultado não me surpreendeu: aptidão para mecânica, visualização espacial, engenharias. Tudo indicava que eu não deveria me envolver com as áreas biológica, médica e de humanas. Fiquei feliz e decidi cursar matemática. No terceiro ano do ensino médio, quando os professores perguntavam quais eram as carreiras que escolheríamos, metade da turma informava que tentaria vestibular para engenharia e a outra metade, para medicina. Eu era a única que pretendia fazer matemática. Sob influência do grupo, comecei a ter dúvidas. Não é trivial escolher a profissão, principalmente aos 16 anos de idade. Até hoje não sei bem o motivo, mas decidi que faria vestibular para medicina.
Denise Pires de Carvalho
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro