A relação entre saúde mental e genialidade ou entre ética e pesquisa científica tem um fascínio natural, difícil de resistir. Histórias de gênios incompreendidos que ‘veem’ além dos meros mortais ou de investigações sobre quais são os limites éticos admissíveis na pesquisa, na linha de ‘o fim justifica os meios’, são abundantes tanto na literatura quanto no cinema. Essas histórias, porém, devem sempre ser estudadas com certo cuidado, pois é fácil cairmos em lugares comuns e raciocínios falaciosos como ‘estudar o infinito o levou à loucura’ ou ‘entender as profundezas da matéria tornou a vida insuportável’. Por mais tentadoras que essas fórmulas sejam, sempre ignoram aspectos pessoais de cada um, assim como a natureza do trabalho de pesquisa científica.
O livro Quando deixamos de entender o mundo, de Benjamín Labatut, explora essas questões de maneira criativa, tanto do ponto de vista histórico-narrativo quanto literário, e assume, desde o início, que o que se está apresentando é “ficção baseada em eventos reais”.
Marco Moriconi
Instituto de Física,
Universidade Federal Fluminens