Neusa Amato e a física de raios cósmicos

Pioneira da física no Brasil, ela deu contribuições importantes para o entendimento dos raios cósmicos, núcleos atômicos de alta energia que chegam do espaço e bombardeiam a atmosfera terrestre a todo instante, criando uma ‘chuveirada’ de novas partículas que penetram nossos corpos

CRÉDITO: IMAGEM WIKIPEDIA

Imagine se o planeta Terra fosse atingido diariamente por uma chuva de partículas subatômicas, viajando a velocidades próximas à da luz no vácuo (300 mil km/s) – muitas delas vindas de galáxias distantes.

Soa algo assustador, e parece coisa de filme de ficção científica, não?

Mas é justamente isso que acontece todos os dias, a todo instante. A física brasileira Neusa Amato dedicou sua vida a estudar esse fenômeno, cuja origem segue, em parte, ainda misteriosa para especialistas. Mas, antes de descrever as pesquisas dessa pioneira da ciência no Brasil, vamos falar um pouco mais sobre esses ‘visitantes’ espaciais.

No momento em que você lê este texto, seu corpo está sendo atravessado – sem que isso cause malefícios à sua saúde – pelas consequências dos choques desses ‘viajantes’ extraterrestres, os raios cósmicos.

Essas partículas, formadas majoritariamente por núcleos atômicos, chegam à Terra em quantidades impressionantes: cerca de 10 mil delas por metro quadrado por segundo. Elas se chocam contra as moléculas de nossa atmosfera, gerando uma cascata (de até bilhões) de novas partículas, que seguem em direção ao solo.

Em geral, os raios cósmicos são muito energéticos. Uma diminuta (e rara) fração deles – denominados ultraenergéticos (ou zévatrons), de origem ainda misteriosa – pode ter energias macroscópicas – por exemplo, a de um chute bem dado em uma bola de futebol. Pode não parecer muita coisa, mas temos que nos lembrar de que núcleos atômicos são trilhões de vezes menores que um grão de areia.

A energia dos zévatrons chega a ser centenas ou milhares de vezes mais alta do que a dos elétrons acelerados em nosso Sirius, acelerador de partículas que fica no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas (SP), ou a dos choques de partículas no LHC (sigla, em inglês, para Grande Colisor de Hádrons), no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), na Suíça.

Aceleradores podem custar bilhões de dólares. Já os raios cósmicos são naturais – e, portanto, gratuitos. E o Brasil soube se aproveitar disso, como veremos.