Nos 150 anos, as múltiplas faces de Oswaldo Cruz

Marido, pai, amigo, viajante, gestor de saúde pública e um cientista que cultivou uma rede no Brasil e no mundo: historiadora Ana Luce Girão Soares Lima conta o que a correspondência pessoal revela sobre o fundador da Fiocruz

CRÉDITO: FOTOS MATHERUS AFFONSO

Em um ano em que o Brasil vive o bicentenário da Independência e ainda sofre com as consequências de mais de dois anos da pandemia de covid-19, são celebrados os 150 anos do nascimento de Oswaldo Cruz (1872-1917). A conexão do médico sanitarista, epidemiologista e gestor de saúde pública que fundou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com esses temas é imensa e simbólica, aponta a historiadora Ana Luce Girão Soares de Lima, que tem se dedicado a pesquisar a figura do cientista brasileiro mais popular entre seus conterrâneos. “Gruda na gente. Sempre volto para Oswaldo Cruz”, diz ela, que começou a tomar contato com esse personagem por meio do acervo pessoal dele no Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz, onde trabalha. A pesquisadora se debruça desde o mestrado sobre a correspondência de Cruz, que revela outras faces de um cientista sempre preocupado em conhecer profundamente o Brasil e seus problemas sanitários, ao mesmo tempo em que combateu epidemias diversas como febre amarela, varíola, peste bubônica e cólera. “É comum se criar uma aura de santidade em torno da figura, e as cartas nos ajudam a conhecê-lo melhor”.  

CIÊNCIA HOJE: Nos 150 anos do nascimento de Oswaldo Cruz, qual o interesse pela figura deste que talvez seja o cientista brasileiro mais popular no país?

ANA LUCE GIRÃO SOARES DE LIMA (AL): Desde o início da pandemia de covid-19, a Fiocruz tem sido muito procurada para falar sobre Oswaldo Cruz, porque a instituição foi criada durante uma crise sanitária e sempre respondeu a todas as crises sanitárias que se apresentaram desde então. E esses 150 anos do nascimento dele acontecem em um momento em que temos outras efemérides, como o bicentenário da Independência. Este momento, entre outras questões, inclui falar de como os cientistas dessa instituição, especialmente os mais emblemáticos, como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas (1879-1934), se movimentaram para ajudar a construir essa independência, para que o país pudesse praticar uma ciência voltada às questões nacionais e aos problemas brasileiros, ajudando a construir essa nossa nacionalidade.