Novo olhar sobre a origem da humanidade

Livro faz grande revisão do nosso conhecimento sobre a Pré-história e destaca o papel central das escolhas do ser humano para determinar o curso da nossa história

O despertar de tudo: uma nova história da humanidade

David Graeber e David Wengrow; Claudio Marcondes e Denise Bottmann (tradutores)
Companhia das Letras, 2022, 696p.

É bem comum, ao lidarmos com o passado, buscarmos o início de algum processo ou fenômeno. E, por meio da interpretação desse começo, fazermos uma leitura do desenvolvimento do processo até o presente. O início, portanto, explicaria o desenrolar de tudo até o momento atual. Todas as respostas já estariam ali, bastando somente ao estudioso observar o início com atenção e apanhar o fio que se desenrola ao longo do tempo. O termo técnico nas humanidades para essa forma de interpretar a continuidade de um fenômeno, com base no seu início, é teleologia. Ir ao passado, nessa linha, significa ir à procura de onde tudo começou, do momento detonador, e ali encontrar uma resposta para as questões do tempo presente.

Nesse sentido, a ideia de começo como causa explicativa de tudo sempre exerceu uma forte atração na nossa imaginação sobre o passado. O historiador francês Marc Bloch (1886-1944) nomeou esse vício de ‘ídolo das origens’. Vício, pois não permite muito espaço para inovação, criação ou escolha deliberada por parte de mulheres e homens do passado. Uma vez começado, já não existe como fugir ou recriar o que já foi estabelecido desde o início.