Movimentos sociais são transformados pelo tempo histórico. Todos sofrem influências diretas das dinâmicas políticas, sociais, econômicas e culturais da sociedade. O movimento negro é um exemplo interessante para refletirmos mudanças na sociedade brasileira nas últimas três décadas, levando-se em conta fatores institucionais e políticos que afetam direta ou indiretamente sua organização.
Plural nas formas de se estruturar e com práticas específicas de atuação, o movimento negro tem origem no final do século 19 ou no início do 20, a depender da leitura que se faça de sua história. Organizações formadas na década de 1930, como a Frente Negra Brasileira, são completamente diferentes daquelas criadas em fins dos anos 1970 ou meados das décadas de 1980 e 1990, entre elas, Movimento Negro Unificado, Geledés – Instituto da Mulher Negra, Ilê Ayê, Criola e Centro de Articulação de Populações Marginalizadas.
O combate ao racismo e à discriminação racial em todas as suas formas são a identidade política comum do movimento, ainda que cada organização tenha desenvolvido suas próprias estratégias de atuação e intervenção junto à comunidade negra e à sociedade em geral.
A luta contra o racismo, para algumas organizações, pode significar denunciar o assassinato sistemático de jovens negros/as pelas forças policiais, enquanto, para outras, pode significar influenciar a construção de políticas públicas de saúde e educação, como aumentar a população negra nas universidades. Ou, ainda, pode significar revalorizar a estética negra por meio de práticas culturais ou educativas. Enfim, as formas de atuação das organizações negras caracterizam-se por diversidade e criatividade.
Marcio André de Oliveira dos Santos
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), campus dos Malês (Bahia)