O Novo Ensino Médio e o fim da educação científica

Para Daniel Cara professor e pesquisador da USP, reforma é descontextualizada do universo escolar e das realidades das redes públicas, busca ‘desprofissionalizar’ docentes, impõe uma educação desprovida de ciência e não proporciona o direito de escolha aos estudantes, alardeado pelos defensores do NEM

CRÉDITO: FOTO CEDIDA PELO ENTREVISTADO

Integrante do Comitê Diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, rede da sociedade civil que coordenou de 2006 a 2020, Daniel Cara, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), faz um alerta: a política do Novo Ensino Médio (NEM), anunciada como uma medida que possibilitaria aos estudantes definir percursos formativos de acordo com seus interesses e necessidades, nunca foi pautada pelo direito de escolha. “Na prática, ela almeja a desprofissionalização docente e impõe aos estudantes uma educação desprovida de ciência. Não há autonomia ou direito de escolha: 52% dos municípios brasileiros têm apenas uma escola de ensino médio, que estão aptas a ofertar, no máximo, dois itinerários. É uma falácia”, diz ele. Cara lembra que, em 2013, a destinação de recursos petrolíferos para a educação pública e a saúde havia sido aprovada e, em seguida, o Plano Nacional de Educação estabeleceu que 10% do Produto Interno Bruto fossem para a área. Mas, no governo de Michel Temer, em 2016, houve a aprovação da chamada PEC do Teto de Gastos e, no ano seguinte, foram sancionadas as reformas Trabalhista e do Ensino Médio. “Ou seja, o Novo Ensino Médio é a política educacional que cabe sob o teto dos gastos públicos federais”, afirma o pesquisador, que propõe a revogação do NEM. “O erro é achar que uma reforma exclusivamente curricular, e equivocada, pode mudar a qualidade. Sem investir mais em educação não vamos avançar”.