O poder dos mapas nas disputas de terra

O principal instrumento de demarcação de terras é o mapa. Mas o saber cartográfico oficial está concentrado nas mãos do Estado e, com frequência, é usado como ferramenta para a retirada dos direitos dos povos tradicionais a seus territórios, transformando o modo de vida e a cultura dessas populações, ou seja, sua identidade. A cartografia social surge como uma alternativa poderosa para essas comunidades dominarem as técnicas de representação de seus territórios e recuperarem suas histórias.  

CRÉDITO: EXTRAÍDO DE NEUCIDADES.FILES.WORDPRESS.COM/2014/11/SEMA.JPG

Pensar os conflitos de terra que, atualmente, envolvem povos e comunidades tradicionais no Brasil é uma forma de dar visibilidade à resistência dessas populações e, também, ao seu modo de vida. Olhar para essas questões ressalta a forma como o Estado-nação se impõe a essas comunidades, apagando e reprimindo suas práticas culturais e de sobrevivência.

Um exemplo disso é o que ocorre na comunidade de remanescentes de quilombolas da Ilha da Marambaia, em Mangaratiba, no estado do Rio de Janeiro, que enfrenta, historicamente, a usurpação de seu território pelas Forças Armadas, o que resulta no apagamento de suas raízes e ancestralidade.
Para os geógrafos Marcos Aurélio Saquet e Eliseu Savério Sposito, no livro Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos, “deve-se reconhecer que a parcela da sociedade envolvida com o território possui mais do que a posse de uma área. Possui também, laços com aquele espaço, o meio e a paisagem”.

Esses conflitos territoriais – que acompanham uma ideia de modernidade responsável por distanciar, cada vez mais, os humanos do meio natural – evidenciam o poder do Estado e remetem à colonização europeia e às grandes navegações (entre os séculos 15 e 17), que conquistaram novos territórios, na busca por riquezas e poder. Uma herança dessa colonização europeia permanece influenciando leis que fazem parte, até os dias atuais, da gestão territorial no Brasil.

Uma herança dessa colonização europeia permanece influenciando leis que fazem parte, até os dias atuais, da gestão territorial no Brasil