O visível e o invisível das fronteiras

Retratando a vida de duas jovens sírias obrigadas a fugir de seu país, o filme As nadadoras, disponível na Netflix, desponta como enunciador político das tramas do refúgio ao exibir tanto os efeitos da guerra quanto os de um regime de fronteiras cada vez mais hostil

CRÉDITO: NETFLIX/DIVULGAÇÃO

Em setembro de 2015, uma cena chocou o mundo ao apresentar de forma brutal os custos humanos do que, à época, era chamada ‘crise migratória europeia’ ou ‘crise mundial dos refugiados’. A imagem, que circulou mundialmente, era a de um pequeno menino sírio encontrado morto na praia de Bodrum, na Turquia, após o barco em que estava afundar com diversos refugiados que pretendiam chegar à Grécia. A palavra ‘crise’ enunciava tanto o movimento de milhares de refugiados em direção ao continente europeu, enfrentando condições muito adversas, como denotava uma sensação de descontrole na capacidade europeia em evitar uma suposta invasão de pessoas. Àquela altura, o grande conflito global (não único) que simbolizava essa noção de ‘crise’ era a guerra civil na Síria. E é esse contexto que o filme As nadadoras, da diretora Sally El Hosaini, apresenta de forma brilhante.

Disponível na Netflix, o filme retrata a vida de duas jovens nadadoras sírias que são obrigadas a fugir do país após a intensificação do conflito em 2015, mesmo ano em que o caso do menino sírio ocorreu. E, ao contrário de um enredo clássico de muitos filmes sobre migração, a trama se concentra nas pequenas e lentas transformações, no dia a dia do tornar-se refugiada e nos efeitos microscópicos não somente da guerra, mas de um regime de fronteira cada vez mais hostil, que penetra o profundo das relações.