Os múltiplos usos do teste do cometa

O DNA pode sofrer danos que, se não reparados, levam a mutações e, consequentemente, a doenças, como o câncer. Por esse motivo, os pesquisadores desenvolveram diferentes métodos para avaliar o dano e o reparo do DNA. Um deles é o chamado ‘teste do cometa’, capaz de avaliar o potencial de proteção de diferentes compostos contra os danos causados ao DNA. Neste artigo, apresentamos as possíveis aplicações dessa técnica na área de pesquisa e sua relevância para a sociedade.

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

Desde o início das civilizações, a curiosidade humana pela astronomia e biologia exerceu um papel fundamental para as sociedades em desenvolvimento. Elementos do espaço sideral, como os cometas, sempre foram objeto de fascínio e admiração para os seres humanos que, ao observarem esses corpos celestes, geralmente chegavam a uma interpretação mística. Também era intrigante o modo como ocorre a transmissão das características de um organismo para outro: a hereditariedade.
Os estudos sobre a transmissão genética ajudaram civilizações que almejavam o domínio da agricultura e pecuária. Pesquisas mais aprofundadas sobre biologia levaram à descoberta do DNA e de sua estrutura, o que possibilitou o avanço do conhecimento sobre a herança genética. Apesar de cometas e DNA não terem relação alguma, o avanço da tecnologia levou ao desenvolvimento de uma curiosa técnica conhecida como ‘teste do cometa’, usado para investigar o dano causado ao DNA.
Um dos cometas mais bem conhecidos é o Halley – um corpo de massa pequena e órbita irregular, constituído de neve, rocha e poeira congelada. Quando um cometa passa perto do sol, ele é aquecido e começa a liberar gases. Isso produz uma atmosfera visível e, às vezes, também uma cauda, chamada coma.
Em nível molecular, também é possível produzir imagens parecidas às dos cometas, mas usando DNA genômico (ácido desoxirribonucleico): composto químico encontrado em todas as células que contém as instruções necessárias para coordenar as funções de todos os organismos. As moléculas de DNA são constituídas por duas fitas – a dupla-hélice – que se emparelham por meio de quatro unidades químicas chamadas bases nucleotídicas.

Como medir danos ao DNA?

Dano ao DNA é definido como qualquer alteração na estrutura do ácido desoxirribonucleico capaz de modificar as propriedades dos genes e/ou interferir nos processos celulares. O DNA celular está constantemente sofrendo danos em sua estrutura, como a quebra das fitas que compõem a dupla-hélice. Isso ocorre devido a fatores endógenos (internos) e/ou exógenos (externos).
O próprio metabolismo endógeno pode produzir moléculas que danificam o DNA, como as espécies reativas de oxigênio (EROs) e espécies reativas de nitrogênio (ERNs). O dano causado pela oxidação do DNA pode produzir mais de 20 tipos de alterações nas bases nucleotídicas (os compostos orgânicos responsáveis pela ligação das fitas de DNA), assim como a quebra de fita simples e dupla. Entretanto, a maioria das células desenvolveu um complexo conjunto de redes de sinalização que detectam essas lesões ao DNA e auxiliam nos mecanismos de reparo.
Mas nem sempre esses mecanismos são suficientes para reparar o dano causado, o que pode resultar em mutações genéticas, que contribuem para o aparecimento de diversas doenças, como o câncer, ou desordens neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer.

Nem sempre esses mecanismos são suficientes para reparar o dano causado, o que pode resultar em mutações genéticas, que contribuem para o aparecimento de diversas doenças, como o câncer, ou desordens neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer

Dessa forma, várias ferramentas foram desenvolvidas para investigar o dano ao DNA, principalmente, ao DNA genômico (DNA presente na célula de um organismo). Algumas dessas ferramentas muito utilizadas são PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), imunoensaios, abordagens baseadas em espectrofotometria de massa e o teste do cometa.