Quem tem medo do conhecimento?

É da natureza humana ir em busca de explicações para fenômenos desconhecidos. Nas narrativas míticas, esse desejo por conhecimento em geral resulta em castigos severos, que ainda hoje parecem nos assombrar.

Do latim cognosco, o verbo‘conhecer’, carregado de sentido, tanto pode remeter à origem da vida quanto a da morte. Utilizado nas narrativas bíblicas para explicar o sexo para procriação, bem como em outras mitologias para justificar os severos castigos impingidos àqueles que ousavam conhecer os segredos da vida – uma vez que estes eram de propriedade dos deuses –, esse verbo tornou-se muito perigoso.

Na história de Adão e Eva, por exemplo, ‘conhecer’ foi utilizado principalmente para explicar a relação carnal entre os primeiros humanos:“Adão conheceu sua mulher e ela concebeu; Caim conheceu sua mulher, que concebeu”. Daí decorre a famosa expressão “conhecer, no sentido bíblico”. Além disso, Adão e Eva foram castigados porque desafiaram o criador e experimentaram o fruto da árvore do conhecimento, assim como Prometeu, cujo castigo foi ter uma águia comendo-lhe o fígado, porque ousou dividir com os mortais o conhecimento sobre o uso do fogo.

Ao grego Pitágoras de Samos foi atribuído o vocábulo ‘filosofia’, que quer dizer amizade pela sabedoria, pelo conhecimento. Mas somente aos deuses era dado o privilégio da plena sabedoria, e aos mortais restava apenas o desejo de possuí-la, daí os inúmeros exemplos que a literatura nos fornece sobre a luta incessante dos homens para se apoderar do conhecimento.


Estamos em pleno século 21 e já fomos à lua, já descobrimos a cura de várias doenças, realizamos transplantes de órgãos, clonamos animais e até criamos a inteligência artificial, mas o medo do conhecimento ainda nos assombra

Georgina Martins

Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras)
Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escritora de livros para crianças e jovens