Na coluna anterior, falávamos sobre o novo conceito de infância, de valorização desta etapa da vida que surgia no século 18, com base em concepções de filósofos como o britânico John Locke (1632-1704) e o suíço J.J. Rousseau (1712-1778), que ora enxergavam a criança como um ser não civilizado, carente da orientação dos adultos para se desenvolver; ora como metáfora da natureza — da planta que deveria crescer, de forma orgânica e natural, sem a interferência rígida do processo educativo. Destacamos como a fusão dessas concepções se refletiu na literatura, com o surgimento de obras moralistas e edificantes, além de livros de fábulas, de contos de fadas, de histórias de aventuras e de gravuras, que se constituíram como importante alimento do imaginário infantil.
Mas, se por um lado, no século 18, a Europa se mostrava empenhada em cuidar da infância, por outro, a Revolução Industrial, responsável por arregimentar, na Inglaterra, os filhos dos pobres para o trabalho nas fábricas a partir de quatro anos de idade, fez cair por terra os limites, ainda frágeis, que separavam o mundo infantil do mundo adulto.Forjava-se uma nova geração de adultos em miniaturas, cujas obrigações superavam as mais insólitas tarefas impostas às personagens dos contos maravilhosos, que figuravam nos livros de histórias. Afora isso, as punições reservadas às crianças pobres em nada diferiam das dos adultos – crianças podiam ser severamente punidas e até mesmo enforcadas quando pegas em faltas consideradas muito graves.
Georgina Martins
Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras)
Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escritora de livros para crianças e jovens