Uma cientista dedicada às emoções humanas e à busca da diversidade

Membro do Parent in Science, movimento de apoio à maternidade na academia, e líder de comissões de diversidade na UFF e na Faperj, Letícia Oliveira narra sua trajetória científica na área da neurociência e destaca a importância de mais equidade de gênero nas universidades.  

Minha vida científica começou ainda no ensino médio ao participar e ajudar a fundar o Clube de Ciências e Cultura Paiaguás, projeto liderado pelo professor Ivo Leite Filho, desenvolvido dentro de uma escola pública periférica em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Destaco a nossa presença, em 1989, na 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na qual fiz uma apresentação oral sobre um dos nossos trabalhos no clube. Na plateia, estava o professor Crodowaldo Pavan (1919-2019), presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) à época. Ao final, ele olhou para mim e disse: “Você tem um grande futuro na ciência”.

O episódio teve um impacto significativo sobre mim e consolidou a minha decisão de ser cientista. Gosto de falar sobre isso para lembrarmos que palavras de incentivo para nossos estudantes são muito poderosas.

O passo seguinte foi a faculdade na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; escolhi cursar Farmácia por gostar de biologia e química. Apesar de apreciar a atuação como farmacêutica, continuei firme no propósito de ser cientista. Fiz iniciação científica em farmacologia com o professor André Klein, que abriu as portas para meu mestrado na Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. Aprendi muito com a professora Lêda Menescal de Oliveira, orientadora muito humana e competente, estudando a neurofisiologia do comportamento defensivo da imobilidade tônica, último recurso defensivo de certas espécies, no qual a presa de maneira involuntária aparenta estar morta para fugir dos predadores.