A guerra do Vietnã é tema recorrente nos roteiros cinematográficos estadunidenses desde o final dos anos 1960. Assistimos a sucessos históricos como Apocalypse now e Rambo: first blood. Na atualidade, o tema ainda deixa suas marcas – é o caso da série de TV This is us (2016-2020), em que Jack Pearson, um ex-combatente, vive sob a sombra dos traumas psicológicos deixados pela guerra. Todas essas produções têm em comum a exposição dos horrores e danos pessoais causados aos egressos do conflito, que, despedaçados por dentro, têm dificuldades de se desvencilhar das memórias aterrorizantes e voltar a levar uma vida normal.
Apesar de o tema em si já ter sido amplamente explorado, Destacamento Blood (Da 5 Bloods) é o primeiro filme a tratar a guerra do Vietnã a partir do ponto de vista racial e pela perspectiva afro-americana, o que em si já bastaria para justificar sua importância.
À primeira vista, é a história de quatro amigos veteranos – Paul, Eddie, Otis e Melvin – que voltam ao Vietnã, depois de quase 50 anos, para resgatar os restos mortais do quinto componente dos Bloods – Norman. Para além do ato de honra e lealdade a Norman, eles têm ainda uma segunda intenção não tão etérea quanto a primeira: resgatar uma caixa cheia de ouro enterrada na selva vietnamita desde os tempos da guerra. Uma verdadeira caça ao tesouro.
No entanto, o retorno ao cenário do conflito reacende memórias sensíveis e feridas não curadas daquele período, com as quais precisam lidar ao longo da trama. Vai ficando cada vez mais evidente que o filme tem como pilar central a história de Paul, um homem atordoado, que carrega consigo os sofrimentos causados pelos traumas, culpas, perdas e amarguras de ter dado tudo de si em defesa de um país racista que sempre o tratou como escória.
Jorge Lucas Maia
Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Antirracista
Universidade Federal do Rio de Janeiro