Própolis x Staphylococcus aureus

Doeu a garganta? Algumas gotinhas de própolis resolvem. Para cicatrizar feridas na pele, a própolis também é indicada. Ah, e ela ainda faz bem para os dentes. São tantas as aplicações dessa resina elaborada pelas abelhas que cientistas de todo o mundo procuram desvendar ao máximo seu potencial. O mais recente estudo acaba de ser concluído no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e mostra que a própolis pode combater a bactéria que é responsável por grande parte das infecções hospitalares que resultam em morte — a Staphylococcus aureus .

A biomédica Patrícia Laguna Miorin analisou a composição química de amostras de própolis colhidas no Paraná e no sul de Minas Gerais entre 2000 e 2003 para determinar sua atividade antibactericida. Em experimentos in vitro , ela descobriu que a própolis possui propriedades capazes de inibir a ação e a multiplicação da S. aureus . No entanto, ainda não se conhece com exatidão o mecanismo de ação da própolis contra essa bactéria.

Infecção pós-cirúrgica, pneumonia e dores de garganta são algumas das ações da bactéria, que tem se tornado cada vez mais resistente ao antibiótico usualmente recomendado para combatê-la: a oxacilina. “A S. aureus faz parte da microbiota normal do homem, presente na pele e na mucosa nasal, por exemplo”, afirma a biomédica. “Ela só se torna patogênica quando atinge regiões que não podem conter bactérias, como sangue e urina.” Nessas condições, a S. aureus libera toxinas capazes de matar as células dos tecidos humanos.

 

Bactérias Staphylococcus aureus cultivadas em laboratório

Patrícia descobriu que a própolis elaborada pelas espécies Apis mellifera (abelha africanizada) e Tetragonisca angustula (abelha jataí) possui grande quantidade de compostos bioativos, responsáveis pelo combate à S. aureus . Certas concentrações desses compostos conseguiram matar todas as bactérias recolhidas para um experimento. Quantidades menores não foram suficientes para inibir a ação de todas as bactérias, mas a eficácia voltou a ser de 100% quando a oxacilina foi acrescentada.

Nem todo própolis tem um desempenho tão satisfatório. Essa resina é produzida a partir de tecido vegetal, cera, pólen, materiais orgânicos e saliva de abelhas. Cada um desses itens depende da flora e fauna locais, e portanto existem vários tipos de própolis no mundo. Devido à enorme biodiversidade de plantas e abelhas no Brasil, as própolis daqui contêm propriedades jamais vistas em outros países, por isso estima-se que mais de 50% de todas as pesquisas sobre a substância refiram-se aos tipos brasileiros.

Apesar dos resultados positivos até agora, é preciso analisar cada composto bioativo presente na própolis para compreender sua interação com a oxacilina. Só após esta fase a própolis poderá ser usada nos casos de infecção hospitalar causada pela S.aureus na forma de pomadas, por exemplo. Segundo Patrícia Miorin, isso pode levar cerca de dez anos. “Mesmo assim, a descoberta de mais uma opção terapêutica à base de própolis já representa um grande feito.”

Andreia Fanzeres
Ciência Hoje on-line
17/06/03