Quando o exercício faz mal à saúde

Nem exercício de mais, nem de menos. O ideal para manter a saúde é a prática moderada de atividades físicas. Isso é o que sugere a tese de doutorado de Reury Frank Bacurau, defendida na Universidade de São Paulo (USP). Frank implantou tumores sob a pele de ratos e avaliou sua resposta imunológica após a prática de exercícios em esteiras com diferentes graus de intensidade. Verificou-se que os ratos que praticaram exercício moderadamente tiveram a mais significativa diminuição do tumor e melhora do sistema imunológico.

(foto: Gisele Lopes)

O pesquisador avaliou cerca de 300 ratos durante cerca de 4 anos. Todos os animais sedentários estavam mortos 15 dias após a inoculação do tumor — a expectativa média de vida dos ratos é de dois anos. Já no caso dos animais submetidos a exercícios moderados, 95% sobreviveram por cerca de três meses ou mais. Dos roedores que passaram por treinamento intenso, 37% viveram por aproximadamente um mês e meio após a injeção do tumor (63% morreram antes).

Frank também avaliou o peso dos tumores logo após a morte dos ratos. Nos sedentários, o tumor representava cerca de 17% do peso total. Essa relação era de aproximadamente 1,6% nos animais que praticaram exercícios moderados e de cerca de 7% naqueles submetidos a treinamento intenso. O estudo verificou ainda que a atividade de células do sistema imunológico, como macrófagos e linfócitos, aumentou nos ratos submetidos a exercícios moderados. Ao todo, o pesquisador avaliou cerca de 25 parâmetros imunológicos.

“Esses dados sugerem que indivíduos que praticam exercício de forma moderada melhoram mais sua imunidade do que aqueles que o fazem de forma excessiva”, diz o pesquisador. A explicação para isso é que, ao praticarmos exercício com intuito de melhorar o desempenho (esporte), nosso organismo é muito exigido e ocorre uma baixa no sistema imunológico causada pelo estresse da atividade física.

Mas como então a prática moderada do esporte é benéfica à saúde? Frank explica que, se praticarmos a mesma atividade duas ou três vezes por semana, nosso corpo terá tempo para se recuperar entre uma sessão e outra. Com a repetição do esforço, o organismo se adapta à prática de exercícios, os músculos se fortalecem, os sistemas respiratório e cardiovascular melhoram e ocorre aumento na função das células de defesa.

Atletas que se exercitam todos os dias são mais suscetíveis a infecções respiratórias como gripes e resfriados, pois não têm tempo de se recuperar do efeito pós-exercício, que enfraquece o sistema imunológico. A pequena melhora no sistema imunológico dos ratos que fizeram exercício intenso não é incompatível com essa constatação: “a diferença é que os atletas, além de treinarem intensivamente, têm um volume e uma freqüência de exercícios infinitamente maior do que meus animais”.

Estudos como esse sugerem que a prática de exercícios moderados pode auxiliar na prevenção e no tratamento de doenças como o câncer, “mas nunca substituir a terapia convencional”, frisa Frank.

Denis Weisz Kuck
Ciência Hoje on-line
21/07/03