Quase dois séculos de ciência

Chegar a quase duzentos anos com vitalidade é uma conquista para poucos centros de pesquisa. Entre esses está o Observatório Nacional (ON), que no dia 15 de outubro deste ano completou 180 anos de existência. A história dessa instituição criada oficialmente por D. Pedro I em 1827 se confunde com a do Brasil. Em sintonia com a comemoração de seu aniversário, foi lançado o livro História do Observatório Nacional – a persistente construção de uma identidade científica, do filósofo e historiador da ciência Antonio Augusto Passos Videira.

Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Videira se empenha desde 1995 em pesquisas sobre a história do ON, investigando como sua criação e posterior atuação contribuíram para a formação do pensamento científico no país e como o contexto político e cultural da época influenciou os feitos e decisões da instituição.

Para ter acesso a documentos e fotos antigas, o filósofo visitou diversos acervos de pesquisa histórica do Rio de Janeiro como o Museu Imperial, Arquivo e Biblioteca Nacionais, Arquivo Geral do Exército e da Marinha, entre muitos outros. “Conhecer a história do Observatório é compreender a história política e cultural do país”, afirma Videira. “Essa instituição dá a dimensão do quão é difícil é fazer ciência no Brasil”.

Um pouco de história
Localizado no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, o Observatório Nacional é uma dos centros astronômicos de maior solidez e tradição do país. Na década de 1820, o governo imperial via na consolidação das fronteiras nacionais um meio de garantir a soberania do então recém-estabelecido Estado brasileiro e assim assegurar seu bom funcionamento. Para conseguir informações mais precisas sobre a localização das fronteiras brasileiras, a Assembléia Constituinte de 1823 decidiu pela criação de uma instituição estatal responsável pela obtenção dos dados necessários.

Estava plantado então o germe do que mais tarde viria a ser o famoso Observatório. Em 1827, por meio de um decreto do Paço Imperial, foi criado o Observatório Nacional, que só começou a funcionar efetivamente em 1840, depois que as revoltas populares contra o regime foram sufocadas.

Fachada sul do prédio que abrigava o Imperial Observatório no morro do Castelo (foto: Observatório Nacional).

Em 1828, D. Pedro I ordenou a criação de uma comissão constituída por três professores de academias militares para determinar a localização e as funções que o observatório astronômico iria desempenhar. A discussão nada resolveu e só depois de 1840 os membros chegaram a um consenso. Em 1845, na gestão do primeiro diretor da instituição, Soulier de Sauve, uma antiga igreja jesuítica localizada no Morro do Castelo foi escolhida para alocar o Observatório que passou a se chamar Imperial Observatório do Rio de Janeiro, nome que carregou até 1889, quando a República foi proclamada. Nesse período, a função do Observatório se limitava ao estabelecimento de limites territoriais do Brasil e ao levantamento de dados meteorológicos.

Até 1967, o Observatório Nacional foi o responsável pelo fornecimento da hora exata para navios que partiam e atracavam na Baía de Guanabara, além de fornecer a hora certa para o Rio de Janeiro. Em 1922, o ON se transferiu para o Morro de são Januário, local que ocupa até hoje.

Gestões importantes
Entre os diversos períodos pelo qual o ON já passou, Antônio Videira destaca que as gestões de Emmannuel Liais, iniciada em 1870, e de Luiz Cruls, a partir de 1884, foram de extrema relevância para o Observatório. “Com Liais, o observatório passou a trabalhar mais intensamente com a observação astronômica e com a chamada ciência pura, e as pesquisas de Cruls em astrofísica permitiram avanços na compreensão da estrutura física dos cometas”.

Segundo o filósofo, outro feito que traduz a importância do observatório para a ciência brasileira foi o surgimento de diversas outras instituições dele derivadas como o Observatório Magnético de Vassouras (RJ), criado em 1915, o Observatório Astrofísico Brasileiro (OAB), situado em Itajubá, Minas Gerais, em 1981, e o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro, em 1985, entre outros.

Atualmente, sob a direção de Sergio Luiz Fontes, o Observatório desenvolve projetos como o Impacton, que prevê a instalação de telescópios no Nordeste brasileiro em busca de objetos celestes que podem oferecer perigo à Terra. O ON participa ainda de um projeto internacional que pretende investigar a natureza da misteriosa energia escura, além de promover pesquisas geofísicas. 

A instituição oferece ainda oferece cursos de pós-graduação e de ensino a distância. Além disso, pela primeira vez em sua história o Observatório produz receita própria, graças à concessão do carimbo do tempo, necessária para a certificação digital de autenticação de documentos pelo computador.

Com belíssimas e surpreendentes fotos, o livro de Antonio Augusto Passos Videira é uma ótima dica para quem deseja conhecer mais a fundo a história de tão importante instituição científica brasileira. Mais informações sobre a instituição podem ser obtidas no site www.on.br .

História do Observatório Nacional – a persistente construção de uma identidade científica
Antonio Augusto Passos Videira
Rio de Janeiro, 2007, Observatório Nacional
178 páginas
Interessados pelo livro devem ligar para o
Observatório Nacional: Tel: (21) 3878-9100

Rachel Rimas
Ciência Hoje On-line
30/10/2007