A conclusão de um estudo alemão pode levar muita gente a reconsiderar a ideia de pegar uma praia no feriadão que vem aí. Uma equipe do hospital da Universidade Ludwig-Maximilians, em Munique, constatou que pessoas obesas perdem peso quando submetidas a altas altitudes.
A equipe alemã observou o efeito de uma estadia nas montanhas sobre o peso de vinte homens obesos. Durante uma semana, os voluntários ficaram confinados em uma região com altitude de 2.650 metros, apenas 300 metros abaixo do pico da montanha Zugspitze, localizada na fronteira com a Áustria.
Em condições de alta altitude, a pressão atmosférica é menor e o ar é mais rarefeito, o que causa uma redução no teor de oxigênio. Esse fenômeno é chamado de hipóxia hipobárica e é a ele que os cientistas alemães atribuem a perda de peso observada. “A hipóxia hipobárica levou a um aumento da taxa metabólica e a uma redução no apetite dos voluntários”, diz à CH On-line o médico Florian Lippl, um dos autores do estudo. Tais efeitos se mantiveram por quatro semanas após a estadia em alta altitude.
Os cientistas afirmam que essa é a primeira pesquisa a mostrar alterações relevantes no peso de pessoas obesas e com síndrome metabólica — doença caracterizada pela associação de fatores de risco, como hipertensão e níveis baixos de colesterol bom (HDL), para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares —, quando submetidas à alta altitude. O estudo foi publicado esta semana na página da revista Obesity, ligada ao grupo Nature.
Repouso nas montanhas
Durante o tempo em que permaneceram em alta altitude, os participantes não foram submetidos a qualquer dieta, nem a uma rotina diferente de exercícios. Ainda assim, os cientistas perceberam um aumento no gasto energético em repouso (GER) — que corresponde à energia gasta para manter o funcionamento do organismo e realizar a digestão.
A análise estatística revela que, até o final da estadia em alta altitude, os indivíduos tiveram em média uma redução de quase 2 kg no peso total (o peso médio dos voluntários no início do estudo era de cerca de 105 kg). Nas quatro semanas posteriores, eles recuperaram um dos dois quilos perdidos.
Os cientistas ainda não sabem explicar os mecanismos fisiológicos por trás dessa perda de peso. “Seja qual for a causa, o que está claro é que aumentos no GER levam à perda de peso”, argumenta Lippl.
Outro fator que contribui para a perda de peso é a redução do apetite, sintoma comum do chamado mal da montanha, que inclui também dor de cabeça e náuseas — efeitos que são superados apenas após um período de adaptação. Uma constatação curiosa na pesquisa é que, já em baixa altitude, os voluntários continuaram a comer menos. “Eles ingeriram uma quantidade menor de alimentos nas quatro semanas após a estadia em alta altitude em comparação com o período anterior”, conta o médico. Além disso, foi registrado um aumento no nível de esforço nesse período.
Segundo Lippl, ainda é preciso entender os mecanismos por trás da perda de peso. Por isso, os cientistas planejam agora um segundo estudo com um grupo maior de participantes e duração mais prolongada. “Essa pesquisa é apenas um piloto”, afirma o médico. “Por enquanto, o que poderíamos recomendar às pessoas obesas é que, em vez de passar os dias de folga na praia, escolham ir para as montanhas”, completa.
Júlia Faria
Ciência Hoje On-line